08/05/2014

Rosário Breve n.º 357 - in O RIBATEJO de 8 de Maio de 2014 - www.oribatejo.pt

Do que me dizem de José

O meu sogro chamou-se José em vida.
Falam-me às vezes dele. Dizem-me dele coisas limpas e boas de saber.
Um destes dias tornam-me sogro também. Espero que a esses dois aleatórios rapazes também ocorra dizer de mim alguma coisa que não seja sombria, equívoca, reticente, mesquinha, tipo eu-nem-te-conto.
Do que de José me dizem, gosto. Amigo leal. Generoso de mais, consta. Construtor de tudo a que deitou mãos: casas, filhos, trilhos.
Sei que já aqui V. falei de meu Pai. Não quero pessoalizar esta coluna por excesso, mas é que também ele, meu sogro, José, cumpre neste ano terminado em 4 o vigésimo aniversário do seu contranascimento. Por mérito próprio, ele integra a minha galeria de efemérides não propriamente festivas. A suma que dele me fazem, é esta:
– Foi um homem bom.
Dele, não me dizem que foi meramente bom homem. O adjectivo antecipado nem sempre sobe e/ou sabe a arroubo lírico-encomiástico. No caso da hombridade, a sucessão do bom ao homem vale muito mais. Vale tudo. Ele valeu esse tudo, dizem-me.
A minha Senhora & eu passamos por casas que ele fez. Ela aponta-mas com esse dedo índex que há no olhar dos filhos:
– Aquela foi o meu Pai.
Que coisa mais bonita se poderia dizer de uma casa?
Eu, usurpador, sei, olhando-a de encolhido dedo, que também ela, a minha Senhora, é dele, José, obra. Fez-me portanto a Casa, o senhor de nome José.
Estas coisas, assim escritas, podem parecer bonitas só & só tristes. Pareçam-no, enfim. Justas – são.
O meu sogro era do Sporting. (Ninguém chega a perfeito, eu sei.) Dizem-me que tinha um Peugeot 404. Comprou-o azul na chapa e no livrete. Mandou pintá-lo de branco para ir a Alvalade com os estandartes verdes atarraxados atrás por artes serralheiras lá muito dele. Coisas pueris, se à peremptória morte cotejadas. Mas é que.
Mas é que, à exacta, precisa & concisa data de vinda à luz e a lume desta edição do nosso Jornal, 8 de Maio, perfaço 50-anos-50 de nascido. Começo a ter idade de sogro. É como quem diz – de avô-não-tarda-muito. Ainda não aconteceu: nem uma coisa, nem outra.
Mas se & quando, sendo-o finalmente, um dos genros me chamar José, não há-de, espero eu, errar muito – que sempre terei sido capaz de ter construído para ele uma casa, digo, uma Senhora.


6 comentários:

fj disse...

desejo-te um aniversário e tudo de tão bom como o é este texto - excelente!

fj disse...

desejo-te um aniversário e tudo de tão bom como o é este texto - excelente!

Unknown disse...

quando chegar a tua hora de certeza que serás um bom sogro.
abraço amigo

Unknown disse...

Quando chegar a hora de certeza que serás um bom sogro.
Abraço amigo ão ão

Maria Eu disse...

Bela homenagem a um sogro e a uma "Senhora", e belo desejo para quem faz 50! :)

Beijinhos Marianos, Daniel! :)

Daniel Abrunheiro disse...

Grato, gente boa.

Canzoada Assaltante