Do
que me dizem de José
O meu sogro chamou-se José em vida.
Falam-me às vezes dele. Dizem-me dele
coisas limpas e boas de saber.
Um destes dias tornam-me sogro também.
Espero que a esses dois aleatórios rapazes também ocorra dizer de mim alguma
coisa que não seja sombria, equívoca, reticente, mesquinha, tipo
eu-nem-te-conto.
Do que de José me dizem, gosto. Amigo leal.
Generoso de mais, consta. Construtor de tudo a que deitou mãos: casas, filhos,
trilhos.
Sei que já aqui V. falei de meu Pai. Não
quero pessoalizar esta coluna por excesso, mas é que também ele, meu sogro,
José, cumpre neste ano terminado em 4 o vigésimo aniversário do seu
contranascimento. Por mérito próprio, ele integra a minha galeria de efemérides
não propriamente festivas. A suma que dele me fazem, é esta:
– Foi
um homem bom.
Dele, não me dizem que foi meramente bom
homem. O adjectivo antecipado nem sempre sobe e/ou sabe a arroubo
lírico-encomiástico. No caso da hombridade, a sucessão do bom ao homem vale muito
mais. Vale tudo. Ele valeu esse tudo, dizem-me.
A minha Senhora & eu passamos por casas
que ele fez. Ela aponta-mas com esse dedo índex que há no olhar dos filhos:
– Aquela
foi o meu Pai.
Que coisa mais bonita se poderia dizer de
uma casa?
Eu, usurpador, sei, olhando-a de encolhido
dedo, que também ela, a minha Senhora, é dele, José, obra. Fez-me portanto a
Casa, o senhor de nome José.
Estas coisas, assim escritas, podem parecer
bonitas só & só tristes. Pareçam-no, enfim. Justas – são.
O meu sogro era do Sporting. (Ninguém chega
a perfeito, eu sei.) Dizem-me que tinha um Peugeot 404. Comprou-o azul na chapa
e no livrete. Mandou pintá-lo de branco para ir a Alvalade com os estandartes
verdes atarraxados atrás por artes serralheiras lá muito dele. Coisas pueris,
se à peremptória morte cotejadas. Mas é que.
Mas é que, à exacta, precisa & concisa
data de vinda à luz e a lume desta edição do nosso Jornal, 8 de Maio, perfaço
50-anos-50 de nascido. Começo a ter idade de sogro. É como quem diz – de
avô-não-tarda-muito. Ainda não aconteceu: nem uma coisa, nem outra.
Mas se & quando, sendo-o finalmente, um
dos genros me chamar José, não há-de, espero eu, errar muito – que sempre terei
sido capaz de ter construído para ele uma casa, digo, uma Senhora.
6 comentários:
desejo-te um aniversário e tudo de tão bom como o é este texto - excelente!
desejo-te um aniversário e tudo de tão bom como o é este texto - excelente!
quando chegar a tua hora de certeza que serás um bom sogro.
abraço amigo
Quando chegar a hora de certeza que serás um bom sogro.
Abraço amigo ão ão
Bela homenagem a um sogro e a uma "Senhora", e belo desejo para quem faz 50! :)
Beijinhos Marianos, Daniel! :)
Grato, gente boa.
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