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AQUI
NO CAMPO É DIA FERIADO
Leiria, manhã de quinta-feira, 22 de Maio
de 2014
Em
pleno feriado, esta calma de campo desertado.
Mais
livres me parecem as aves ao fresco.
Mais
livros me parecem os campos da ave fresca.
Os
toxiarrumadores não têm hoje que fazer.
Aborrecem-se
devagarinho sem pão nem ópio.
Friúra
de azulejo por gravura.
Estou
aqui mui assentadamente contente.
Gosto
do campo.
*
**
Durante
muito tempo acreditei na dádiva de si
com
que cada um(a) finge entregar-se.
Como
este homem de carão vermelho-sanguíneo-rubi.
Como
a minh’antiga gata nas canelas a esfregar-se.
Sei
hoje que não é preciso um(a) acreditar-se.
Todos
antes por nenhum(a), cada um(a) por si.
O
de rosto encarnado veio, creio, empanturrar-se.
(&
eu interrompo o soneto par’ir fazer chichi.)
Estou
de volta. Envelheci. Sofro de catarse,
de
gota, de meia rota, de maleitas que nunca vi
sofrer
o inimigo, o antipático – nem agora nem aqui.
Componho
a braguilha, discreto, por disfarce.
O
zíper enferrujou, desdentou-se, vai encravar-se.
Tá-tá-tara-tá,
pi-piri-pipi-pi-pi.
*
**
(Conversámos
muitas vezes no escuro.
Foi
quando melhor nos resultou a conversa.
Em
solidão, fui talvez mais puro
– mas de forma inversa.)
*
**
(E de também inversa forma é o
soneto que se segue:)
É o que V. dizia: isto aos feriados
é campo.
No relvado municipal, beira-Lis, um
melro, um santo
melro a invisíveis larvas picotando.
É de retinto carvão, é lustral, é
tão bonito.
Refulge de puro oiro o ouro do seu
bico.
Em verbo fotograf’olho o nigromante
saltarico.
Lá vai ele a seu nenhures ominoso.
Não, espera, poisou adiante, só
mudou de sítio.
Por não ser bipolar, não é dado ao
lítio.
À minhoca sim, lípido maravilhoso.
Quem bem rimou O Melro foi o Guerra Junqueiro.
Faço o mesmo por menos, que sou só
Abrunheiro.
Mas, em a casa chegando, vou ler
isto à mulher
- & de crisóstomo bico, como ela
prefere.
*
**
A maresia física chegava à cidade
portuária
pelo ar das coisas que ao Tempo
mesmo suspendiam.
Entre nós-ninguéns, as imagens a
gelo ardiam
- & a vida era vária & una
& una & vária.
Já então à morte não havíamos por
adversária.
Os acontecimentos eram lentos mas
aconteciam.
Da barra marítima velejava a ânsia
corsária
por ignotos remo(r)tos portos que
nunca amanheciam.
Compactas décadas fecharam a noite
precária.
O mesmo corpo noutro rosto se fez
alimária.
Os que foram, não voltam. Não vêm os
que iam
lacrar nestes versos os que se lhes
seguiriam.
Calma. A cidade lá mora. Demora,
aniversária.
& a morte será vária
& una & una & vária.
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