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Leiria, manhã de 11 de Maio de 2013, sábado
Para onde vai o mundo,
digo, onde se metem
as pessoas que ao meio-dia
desertam a feira?
Por que imperioso desígnio
fica tudo tão vazio?
Ao cabo de tantos anos de
trabalho, adentram-me
a escrita esta preocupação
e outras afins, não sou
um narrador de viagens
heróicas, nunca fui
tal coisa. Tenho pelo
menos essa decência, já não é
mau de todo. Pela tarde,
hei-de desertar, eu mesmo,
que feira? Já o Rio me
chama, faz sol o ar,
há, ou dá-se, uma brisa
decente & refrigerante,
uma pessoa pode flectir
pelas bandas do realmente,
a écloga é possível e até
provável no sábado.
Numa tenda beira-fluvial
cozinham peixe em água-de-tomate,
a álea de freixos fica
perfumada como uma sacristia,
muito eu gosto de sentir a
felicidade simples das merendas,
que são lentas e lautas e
pobres e tão dignas e tão históricas,
é uma bela coisa o
anonimato do Povo, nem tudo
pode ser triste, devo
insistir que não para sobreviver.
Ponho-me então a grafar
sem a fúria já dos primeiros anos.
Daqui a pouco vou para
casa algo valetudinariamente.
Sou tão português de
aldeia, que chego a adoecer só
de pensar seja no que for,
alguma coisa se me avariou
talvez para sempre, mas
nem assim o pus do medo
me infecta a constância, o pão das pombas & o Diabo-por-ele.
me infecta a constância, o pão das pombas & o Diabo-por-ele.
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