Um gozo diferente da comum gente
Nas
terras pequenas, as existências idem são por vezes mosqueadas de um gozo
diferente do da carne (viva ou assada), por a ela concorrer tão-só a serotonina
específica da emoção má chamada “desforra”. Nas terras maiores não será talvez
muito diferente, mas disso não falo por coerência retórico-geográfica: nada
valho, nem (d)a terra onde vivo. Mas adiante.
Foram
os casos, esta semana, da queda daquela arrastada e paulatina e errada figura tão
desfasada do real como os islamitas do toucinho, os indianos da higiene e o
zamericanos das crianças desarmadas, amailo da condenação efectiva a dez anos
de prisa daquele quisto lustral que em má-hora soube guindar-se ao leme de um
Clube que já viveu melhores assembleias e melhores coloniais.
O
gostinho a pólvora no palato da alma substanciou-se-me de uma doçura que já só
pertence ou à justiça inequívoca ou às crianças desarmadas.
No
dia da demissão do ministro que falava devagar e prejudicava depressa, regressava
eu a casa de uma incursão de cinco dias à minha cidade-natal. Dei por mim,
quando soube da velha nova, a assobiar solfejos de adolescente a quem o futuro
é um futuro de sentido obrigatório, proibido é que não. Libei a nova (no
sentido de “notícia”, que às vezes tenho de explicar tudo) apeadeira com uma
tacinha fria de branco agulhado da Mealhada que me soube a champanhe em
Montmartre sustido em sovacos por coristas do Moulin Rouge.
No
dia seguinte, soube-se daquilo do burlão que ainda gozou uma data de tempo o preto
e o prato em Londres até que o TriboPortunogal o cangou a preceito. Sorri então
eu o mais escarninho dos meus rictos – se o Vale e Azevedo, por uns (não
muitos, mesmo assim & afinal) milhões, apanhou o que apanhou, quantos não
apanharia (em milhões e anos) o Gasparzito, o Lento-Rápido, no caso de as
fraudes com direito a carimbo governamental serem vistas e tidas e entendidas e
punidas como tão criminosas quão as do foro privado?
É
ciência corrente que “com uma pistola se
rouba um banco, mas com um banco se rouba toda a gente”. O roubar só é
crime, sabemo-lo, dependendo do lado do balcão. Ora, esse (não tão metafórico
quanto isso) balcão ladra e morde. Já o médico (por regra) se distingue do
político (com excepções) por isto: aquele jura por Hipócrates, enquanto este é
um hipócrita que jura. Entre o Gaspar e o Vale, no cadinho já não crisol do meu
entendimento, a diferença está na evidência de o advogado só ter lixado o
Benfica, ao passo(s) que o alegado “génio
financeiro” deu cabo do Benfica, do Sporting, do Penafiel, do Lusitano de
Vildemoinhos, do União de Tomar, das Académicas de Coimbra e de Santarém e de
Newark, da Segurança Social Futebol Clube, do Comércio & Indústria das
Relações com as Mulatas de Cabo Verde, da Juventude Salesiana do Tempo em que
os Hoquistas de Doze Anos ainda não Eram Vítimas de Pederastia, do Futuro dos
Nossos Filhos Todos sem Excepção, do meu vizinho João, do Pequeno Retalho de
Famalicão, do Bom & do Mau Jesus de Braga, mais de Quem Consome, se Some e
não Paga, dos Pescadores de Caxinas, do Alterne Lusobrasileiro das Meninas, do
Barbeiro Abel, do Tanoeiro Ismael, do Copeiro, do Furriel, do Porco & do
Respectivo (do Porco) Granel.
Vale
e Azevedo tem muito quem o substitua. Gaspar só teve, ou tem, esta bracarense
chamada Albuquerque que, ninguém sendo de facto, se deu já ao luxo-lixo de deveras
mentir, antes de Ministra ainda, ao Parlamento. Triste sina e triste sino: tudo
por nós dobra. Tudo nos cobra. Deve ser obra.
Jure-nos
Hipócrates, ainda que nos não cumpra.
Antes
um menino daquele do zamericanos de pistola na mão e do tamanho antropométrico
do novel desempregado, vulgo Gaspar, vulgo qualquer coisa dessas.
5 comentários:
Boa crónica.
Muito bom, como sempre! :)
PS: Tinhas MESMO que dizer que a Albuquerque é bracarense, pá?? ;)
Não. Sorry.
Um prazer para ler
cumprimentos
Obrigado, Manel, Mad e Alfacinha.
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