16/11/2012

Rosário Breve n.º 283 - in O RIBATEJO - www.oribatejo.pt




Mas o futuro é que é manchete

Uma coisa talvez muito engraçada que nós, desempregados, temos – é fazermos greve geral todos os dias, por isso bem dispensando nós, desempregados, a chatice do pré-aviso e o cataplasma da data marcada, que marcada bem a temos nós, desempregados, e logo com o destino, que nunca foi pêra doce, antes sim amarga pílula.
Data marcada é por igual essa quarta-feira que foi o dia 8 de Novembro de 1985, vez prima em que o nosso O RIBATEJO viu a luz. Festiva efeméride, que hoje albardamos de anos 2vinte7sete ao dorso muar do tempo que passa.
Ter nascido o jornal foi coisa boa, até porque a extremosa gente da região sabe ler, faculdade que sempre a leva ao pensar. E pensar nem sempre é sinónimo de cefaleia, ao contrário do que as ditaduras têm por garantido e as religiões por anátema.
Como o tempo me não falta senão pela falta que me faz, trabalhando, ter menos tempo, dei por mim na especulação. Não na de capitais bolsistas mas naquela de congeminar coisas do tipo e-se-tivesse-sido-daquela-maneira-e-não-desta-assim? Congeminei eu isto: e se O RIBATEJO tivesse nascido antes, muito antes daquela quarta-feira 8/XI/85? E se? Teria sido o giro e o bonito, avento eu. Já estou a ver as manchetes datadas:
O RIBATEJO, 2 de Dezembro de 1640 – SANTARÉM FOI A PRIMEIRA A ACLAMAR O NOVO REI.
Ou: O RIBATEJO, 19 de Janeiro de 1919 – EXÉRCITO REPRIME REVOLTOSOS À ESPADEIRADA.
Ou: O RIBATEJO, 23 de Maio de 1981 – INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM INAUGURADO COM MÃO DE MINISTRO – Vítor Crespo fez as honras da casa.
Ou: O RIBATEJO, 30 de Junho de 1984 – EANISTAS CONSPIRAM NOVO PARTIDO EM ABRANTES.
Ou: O RIBATEJO, 15 de Junho de 1985 – TOMAR EANES POR HERMÍNIO – partido de iniciativa presidencial nasce à beira do Nabão.
Não tendo ainda visto a luz do dia nem a da publicidade, natural (e inevitável) seria que o nosso O RIBATEJO não pudesse clamar estas manchetes e se visse, como viu, a entrar vida adentro com um afã de actualidade que por profissional mérito próprio vai levando e mantendo nos tempos que correm. E que correm não se sabe bem para onde. (Quero eu dizer: saber, sabe-se, mas não é boa política estar a amendoar pelo amargo numa ginjinha de festa de anos, que é o que esta crónica afinal é.)
O RIBATEJO aqui está. Prepara-se até para matricular-se num novo ciclo de vida, de que oportuna e mais clara dicção há-de pertencer a quem o dirige, faz e destina. Sinto-me feliz com isso, até porque quinta-feira (ou seja, hoje, 15) vou muito arrepimpadamente almoçar à velha Scalabitas com gente que é pessoalmente boa todos os dias e profissionalmente óptima todas as quintas-feiras. O que quer dizer que é gente boa até no dia seguinte.
No dia seguinte à tal quarta-feira, 8 de Novembro de 1985.

2 comentários:

Malena disse...

Estamos num tempo que nos deixa espantados... E não é pelo que de bom nos acontece... Haja palavras!

PS: Ontem, no programa da SIC Notícias, António Lobo Xavier disse: Só faz greve quem trabalha.
Descobriu a pólvora!

Daniel Abrunheiro disse...

Verdade, Malena: anda por aí muito idiota iluminado.

Canzoada Assaltante