Mas o futuro
é que é manchete
Uma coisa talvez muito engraçada que nós,
desempregados, temos – é fazermos greve geral todos os dias, por isso bem dispensando
nós, desempregados, a chatice do pré-aviso e o cataplasma da data marcada, que
marcada bem a temos nós, desempregados, e logo com o destino, que nunca foi
pêra doce, antes sim amarga pílula.
Data marcada é por igual essa quarta-feira que foi
o dia 8 de Novembro de 1985, vez prima em que o nosso O RIBATEJO viu a luz. Festiva efeméride, que hoje albardamos de
anos 2vinte7sete ao dorso muar do tempo que passa.
Ter nascido o jornal foi coisa boa, até porque a
extremosa gente da região sabe ler, faculdade que sempre a leva ao pensar. E
pensar nem sempre é sinónimo de cefaleia, ao contrário do que as ditaduras têm
por garantido e as religiões por anátema.
Como o tempo me não falta senão pela falta que me
faz, trabalhando, ter menos tempo, dei por mim na especulação. Não na de
capitais bolsistas mas naquela de congeminar coisas do tipo
e-se-tivesse-sido-daquela-maneira-e-não-desta-assim? Congeminei eu isto: e se O RIBATEJO tivesse nascido antes, muito
antes daquela quarta-feira 8/XI/85? E se? Teria sido o giro e o bonito, avento
eu. Já estou a ver as manchetes datadas:
O RIBATEJO, 2
de Dezembro de 1640 – SANTARÉM FOI A PRIMEIRA A ACLAMAR O NOVO REI.
Ou: O
RIBATEJO, 19 de Janeiro de 1919 – EXÉRCITO REPRIME REVOLTOSOS À ESPADEIRADA.
Ou: O
RIBATEJO, 23 de Maio de 1981 – INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM INAUGURADO COM
MÃO DE MINISTRO – Vítor Crespo fez as honras da casa.
Ou: O
RIBATEJO, 30 de Junho de 1984 – EANISTAS CONSPIRAM NOVO PARTIDO EM ABRANTES.
Ou: O
RIBATEJO, 15 de Junho de 1985 – TOMAR EANES POR HERMÍNIO – partido de
iniciativa presidencial nasce à beira do Nabão.
Não tendo ainda visto a luz do dia nem a da
publicidade, natural (e inevitável) seria que o nosso O RIBATEJO não pudesse clamar estas manchetes e se visse, como viu,
a entrar vida adentro com um afã de actualidade que por profissional mérito
próprio vai levando e mantendo nos tempos que correm. E que correm não se sabe
bem para onde. (Quero eu dizer: saber, sabe-se, mas não é boa política estar a
amendoar pelo amargo numa ginjinha de festa de anos, que é o que esta crónica
afinal é.)
O RIBATEJO aqui está. Prepara-se até
para matricular-se num novo ciclo de vida, de que oportuna e mais clara dicção
há-de pertencer a quem o dirige, faz e destina. Sinto-me feliz com isso, até
porque quinta-feira (ou seja, hoje, 15) vou muito arrepimpadamente almoçar à
velha Scalabitas com gente que é pessoalmente boa todos os dias e
profissionalmente óptima todas as quintas-feiras. O que quer dizer que é gente
boa até no dia seguinte.
No dia seguinte à tal quarta-feira, 8 de Novembro
de 1985.
2 comentários:
Estamos num tempo que nos deixa espantados... E não é pelo que de bom nos acontece... Haja palavras!
PS: Ontem, no programa da SIC Notícias, António Lobo Xavier disse: Só faz greve quem trabalha.
Descobriu a pólvora!
Verdade, Malena: anda por aí muito idiota iluminado.
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