25/01/2011

Ideário de Coimbra - entradas 147 e 148

147. A MINHA TERESA COMPLETA OS ONZE PRIMEIROS ANOS DE VIDA
Coimbra e Pombal, quarta-feira, 19 de Janeiro de 2011

Às 11h30, a minha Teresa completa os primeiros onze anos da vida dela.

*

Manhã de hialina luz condecorada,
da névoa coada d’álamos e faias,
não te me faças tarde, não saias,
fica cristalina, fria, consolada.





148. VENTO DO PASSAMENTO NÃO CORTÊS
Coimbra, quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011


Continuo doente. Afonia quase total, bruscas amplitudes térmicas, uma melancolia física que à noite descamba em sonhos de acordado na solidão do catre, tosse seca sem perspectiva de expectoração, geral agonia. Trabalhar, trabalho – mas, como aliás quase sempre, pouco e mal. A ver que vai isto dar. Tremura das mãos sem ser por frio: das quilolitragens de há (tantos) anos. Solidão e lucidez.
Hoje, porém, formoso, muito belo sol januário. Vou ao barbeiro a ser tosquiado. Aula entre as 15h30 e as 17h30: sacrifício. Explicação de Português a um puto às 18h menos 15 m: sacrifício. Entre as 20h30 e as 21h00, esperar pelo Zé Manel Girão no Continente: receber dele uma cópia do filme A Guerra do Fogo (para mostrar aos formando de Coimbra na semana que vem, virá se vier). Agora (14h38m), barbeiro.

*

Leitura de três livros de Roberto Bolaño: Os Detectives Selvagens, O Terceiro Reich e Nocturno Chileno, neste Janeiro adoecido.

*

O vento desceu as escadas da tarde para cair, frio, aos pés da noite. O palor anil-escuro ministra suavidade aos homens passantes, em alguns dos quais se agasalha o suave desejo de amar pediatricamente a mulher que têm (ou não têm, ou querem ter, ou que tiveram).

*

No Diário de Coimbra de hoje (Necrologia, página 8), este terror ínfimo, íntimo e multitudinário à vez mesma:

COIMBRA
DANIEL FILIPE NASCIMENTO CORTÊS faleceu com 12 anos (…)

Uma criança morta. Tinha nome de poeta (bom poeta) português: Daniel Filipe. E tinha por apelidos o paradoxo da morte aos doze anos: Nascimento Cortês.

(…) Era natural de Coimbra e residia em S. Martinho de Árvore.

Não imagino – nem posso, nem quero imaginar o que seja tal coisa.




2 comentários:

João Pedro disse...

Viva!

Deixa lá o III Reich, não te incomodes. Mesmo o 2666 pareceu-me que levava mais uma arrumadelazita, se o bom do Roberto tivesse para tal tido tempo. Já estou à procura de "A noite e o riso", conforme conselho teu. Um abraço e que a afonia não se pegue à escrita

Daniel Abrunheiro disse...

Bom dia, Amigo. Espero que consigas encontrar o livro do Nuno Bragança.

Canzoada Assaltante