QUATRO QUADRAS QUASE SOLTAS
A poderosa angústia sorvedoura
do melhor que a vida tem no dia-a-dia
– el’ é quem faz pasto e lavoura
no campo que nós somos em porfia.
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Inspector sem múnus da irisada vida,
que de mim farei, que me desfaço?
Do temporão leite ao serôdio bagaço,
que de mim farei, que me não refaço?
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Por ’mor da vida que me for restante,
a paz devo fazer c’a já (viv)ida.
A vida que sobrar será bastante.
Ávida, há vida que m’é devida.
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Tu, que inexistes, és quem sabe
das ribas do dia as cinzas rasas.
O rosto da Mãe: quanto nele cabe?
A ave, a árvore, a terra, as casas.
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OLHOS E OUTROS ARREDORES COM QUE A MÃE
Olhos que a terra embacia de ramas,
jóias de água de nascentes morientes,
olhos que olhados tu mais amas,
jóias da Mãe fulgindo decadentes.
O peito quase exausto arfa ainda
o magma que meu Pai mais desejou.
Já seca ’stá a seiva, mas seiv’ ainda.
E é linda ainda a fonte que a brotou.
Fui ver quem ela foi – e o que trago,
é bem quem ela é, sempre será.
Os s’ores vivam à vontade, ’tá tudo pago,
que o mais, enfim, ao menos se verá.
Unhas e dedos repetem da gente
que ela gerou sabendo que gerava.
Tão parecidas são, tão parecidos!
Conceber é parecer quem amava.
Hoje choveu sobre as mais velhas ramas.
Fui pedir a senhoras que a deitassem.
Dei ’ma nota de euros, tal que a amassem,
a olhassem como a olhas e mais amas.
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