07/09/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 69

© Harry Callahan - Detroit (1943)



69. OUTRA VIDA TERÁ OCORRIDO



Coimbra, segunda-feira, 6 de Setembro de 2010


Os que morrer vão nos não saúdam.
Brandura é a de seus corpos delicados.
A leve ave à fresca brisa acomete,
estendais de sombra atoalham os chãos das ruas.


Se agora rosas eu disser, a quem nas direi?
A tinta verde acometo a Noite e a Cidade.
Se eu agora disser rosas, a quem nas direi?
Olha as pessoas morituras tão caladas,


abespinhadas tão em suas colecções de moscas,
seus netos, seus sobrinhos vadios sem instrução,
suas melancolias portáteis como gravadores de cassettes,
as pessoas que não saúdam, que vão morrer

em vão.

*


Matiz, íris, palimpsesto e ira:
relojoeiras peças de meu imo-mecanismo.
Eu era um dia moço em Tavira.
E noutro eu era puro paroxismo.


Ou não era. Ou era tão-só quanto eu podia.
Tavira? Matiz? Ira e retina?
Eu era, olá!, eu era um dia.


*

Outra vida terá ocorrido entre árvores outras,
a outro Sol e a Chuva outra.
Outro mundo, ex-naveg’ocupante destoutro Corpo.
Agora sei que sim, assim, uma segunda-feira.

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Canzoada Assaltante