Não posso deter o Tempo. Time Must Have a Stop, titulou em vão o senhor Aldous Huxley. E o precioso utopista do Shangri-La, James Hilton, o mesmo que disse adeus a Mister Chips? Não, não serei eu a deter o Tempo. Eu nem quero pará-lo – não é esse deter. É o deter de possuir. De ser em posse. De por Ele ser empossado. Foral e alforria de cronógrafo. De rapazinho atento aos humores e às linfas da meteorologia. Por exemplo: certa vez, chovia e fazia sol ao mesmo tempo – um encanto ante a tonta Natura. A Mãe leva-me com ela (tenho quatro anos) à mercearia da senhora Albertina. Eu meto fundo os braços nas arcas verticais do feijão, do grão, das favas, do milho, das massas. A loja cheira a café-sabão-bacalhau-presunto. Chovia e sol batia. O fósforo apaga-se de pronto, tenho dezoito anos e não sei o que se passa, a minha palavra começa a contar em casa (em Casa), há outro mundo, todo tinta & papel, oculto nos livros, os livros como salas-de-espera para doentes da imaginação. É o canto da Sereia Gráfica. É o primevo coice da Poesia. Há outra maneira de dizer, as linhas escritas não têm de
chegar
ao fim
da linha.
Chiça, as poesias, o desespero inventado das puberdades felizes, as amarguras então tão-só premonitórias, Afonso Lopes Vieira e Jesus & O Lavrador e José Gomes Ferreira e aquela balada popular coimbrã
Que noite serena,
que lindo luar,
que linda barquinha
eu vejo passar.
Vem, vem, ó meu anjo,
fujamos daqui,
que a noite está bela,
que a noite está bela
e o amor sorri.
Fujamos daqui!
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