13/02/2008

Música Óptica Muito Útil em Alguma Beira de Algum Lago



Para a Sofia, claro

A música mora ’inda à beir’água.
Toca o Sol ainda, velho ourives pianista.
Altas notas de música e graves: as árvores.
Estar vivo, que fortuna, algures no auditório.
Ter, que fortuna, uma boca e poder calá-la.
Isto dos olhos serem ouvidos, que fortuna.

Como um olho deitado, o lago.
Ele olha o céu: dá-se-lhe, recebe-o.
É um pouco como se o escutara.
Um olho deitado de água escutando o céu.
O vento que inclina um pouco as not’árvores.
Como beijar em silêncio algumas mãos.

Como, de tranquila tão, for’a’amargura contente.
A água cheia de música, d’órfãos deuses plena.
Alguma prístina ondinha babujando, muito bemol.
Algum furtivo rastejar por as folhas caídas,
tal rasgão de teclado-éclair, sombriamente.
Alguns de nós, que de vós fomos, ouvindo.

Ou vindo, não de vós já, nem já para nós.
Nenhuma dor já e já ardor nenhum.
Uma remansosa música, em dela vez e dele.
À beira, o céu descendo a que se ascenda.
Bordoadas de ouro ’ind’antes da noite ser:
quem as ouve não se vê, por fortuna.

Viagem Coimbra-Caramulo,
tarde e noite de 13 de Fevereiro de 2008

3 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

música para Sofia.


da alma.



_________.


belo.

concerto de água. interior.

.



cordialmente.

fj disse...

Eu, que não sou muito de letras, acho isto lindo. Lindo!

Unknown disse...

A Sofia deve estar... no céu com tamanhas palavras. Gosto.
Bj

Canzoada Assaltante