Abertura
A poesia é uma dimensão paralela à vida. Tem muito de esquizo, quando é verdadeira. Isto é: quando é sincera. Não digo que sincera em relação à vida, mas a si mesma. Costumo aqui pôr versos. Sou um tonto manso, portanto. São linhas inócuas. Mas fazem-me falta, porque se me impõem. Ainda ontem, indo a Coimbra, abri a boca. Primeiro no cadeirão terrífico do dentista. Depois, pelas ruas. Bordando a pé o meu Mondego, tive de ir anotando redondilhas menores (na medida quinta e no valor…). Era uma canção. Com ela inicio a publicação, hoje, de coisas paralelas: versos, enfim.
A poesia é uma dimensão paralela à vida. Tem muito de esquizo, quando é verdadeira. Isto é: quando é sincera. Não digo que sincera em relação à vida, mas a si mesma. Costumo aqui pôr versos. Sou um tonto manso, portanto. São linhas inócuas. Mas fazem-me falta, porque se me impõem. Ainda ontem, indo a Coimbra, abri a boca. Primeiro no cadeirão terrífico do dentista. Depois, pelas ruas. Bordando a pé o meu Mondego, tive de ir anotando redondilhas menores (na medida quinta e no valor…). Era uma canção. Com ela inicio a publicação, hoje, de coisas paralelas: versos, enfim.
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CANÇÕES COM SERES VOADORES
1. Com Gaivota
Gaivota que voa / pura ao vento brando
branca pura boa / para meu encanto.
Ave singular / solidão perfeita
deita cal ao céu / que à terra enjeita.
Asas escritoras / do verso do vento
rima delas luz / com o mesmo momento.
Sempiterna ave / una repetida
voa e não vai / que não vem da vida.
Voa o pensamento / qual gaivota branda
se mente que vai / fica e não anda.
Minhas mãos pedestres / são asas cortadas
voam rés da terra / tristes e fechadas.
Palavra suave / que a tristeza adoça
um peito de ave / um peito de moça.
Aquoso olhar / aguada sede
magoada nele / que um voo pede.
2. Com Andorinha
Andorinha pedacito / d’ardósia comovedora
peitilho de senhorito / jaquetilha de senhora
vem aqui ao meu cantito / um minuto uma hora
é inverno estou aflito / não tarda te vás embora.
Andorinha aviadora / que me deste por proscrito
preta ave siadora / cor dum vocábulo escrito
poisa aqui sê regedora / de meu mudo canto dito
poisa aqui recebedora / que eu não falo que eu não grito
andorinha pedacito.
3. Com Senhora Nua
Um clarão branco / que respira
que morangos pulsa / projectados
um tecto que dá / um céu que tira
azeileite da verdade / e da mentira
fundas fendas brechas / tangos fados.
Mineral loba / diamantina
topáziolhos / coruscando
lunar dourada / e argentina
desnudos pés / ’mante menina
cristal a face opalina / olhos cerrados tudo mirando.
Se puderes / não a tenhas
a não retenhas / se puderes
que mulheres nuas / são aranhas
são aranhas / são mulheres.
1. Com Gaivota
Gaivota que voa / pura ao vento brando
branca pura boa / para meu encanto.
Ave singular / solidão perfeita
deita cal ao céu / que à terra enjeita.
Asas escritoras / do verso do vento
rima delas luz / com o mesmo momento.
Sempiterna ave / una repetida
voa e não vai / que não vem da vida.
Voa o pensamento / qual gaivota branda
se mente que vai / fica e não anda.
Minhas mãos pedestres / são asas cortadas
voam rés da terra / tristes e fechadas.
Palavra suave / que a tristeza adoça
um peito de ave / um peito de moça.
Aquoso olhar / aguada sede
magoada nele / que um voo pede.
2. Com Andorinha
Andorinha pedacito / d’ardósia comovedora
peitilho de senhorito / jaquetilha de senhora
vem aqui ao meu cantito / um minuto uma hora
é inverno estou aflito / não tarda te vás embora.
Andorinha aviadora / que me deste por proscrito
preta ave siadora / cor dum vocábulo escrito
poisa aqui sê regedora / de meu mudo canto dito
poisa aqui recebedora / que eu não falo que eu não grito
andorinha pedacito.
3. Com Senhora Nua
Um clarão branco / que respira
que morangos pulsa / projectados
um tecto que dá / um céu que tira
azeileite da verdade / e da mentira
fundas fendas brechas / tangos fados.
Mineral loba / diamantina
topáziolhos / coruscando
lunar dourada / e argentina
desnudos pés / ’mante menina
cristal a face opalina / olhos cerrados tudo mirando.
Se puderes / não a tenhas
a não retenhas / se puderes
que mulheres nuas / são aranhas
são aranhas / são mulheres.
Datas:
1. - Coimbra, fim da manhã de 20 de Fevereiro de 2008
2. e 3. - Caramulo, fim da tarde de 20 de Fevereiro de 2008
1. - Coimbra, fim da manhã de 20 de Fevereiro de 2008
2. e 3. - Caramulo, fim da tarde de 20 de Fevereiro de 2008
3 comentários:
Gostei de senti-lo no quadro anterior mais solto mas não menor.
caro daniel, estou a preparar um trabalho e gostaria de incluir um verso de um destes seus poemas (referindo a origem, naturalmente). Gostaria de obter a sua autorização: será possível indicar-me um endereço electrónico para poder escrever-lhe com alguma detalhe. O meu é zeff.e@hotmail.com
é favor ver, Zeff, seu mail. obrigado pela leitura.
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