Tinham-na escalado, dourado depois ao lume.
Era num barraco da praia, um sítio pintado
cimabaixo de listras amarelas e brancas.
Comemos a cabeça ao peixe.
O empregado era magro e vertical,
um ponto de exclamação
algo triste, talvez por
mal pago.
O mar rugia como um puta rouca,
aos pés da barraca.
Como já disse em poema anterior
(tudo o que é poema é, aliás, anterior),
eu tinha dinheiro.
Depois a avenida esperava o verão de há
30 anos.
Esperava os mesmos turistas de há
30 anos,
mas agora com dinheiro, agora
outra vez mas
agora.
Era o quê?
Fevereiro? Março?
Chovia a magra chuva portuguesa,
o afinal pouco frio, o gelozito
de pechisbeque.
No bar amarelibranco, serviam
cabeça de peixe.
Algum legume, um pouco de
batata redonda.
Tinham acendido a televisão,
passava talvez um rioavebelenenses,
eu não recordo isso,
recordo a aragem sem potência,
o estoril falso do município,
a pouca figueiradafoz que
poderia ser até que
se me gastasse o dinheiro,
o peixe
e a
cabeça.
Caramulo, ind'há bocadito, tarde de 23 de junho de 2006
2 comentários:
Desenhas-me nos labios um sorriso cru com a tua poesia ironica.
Porque tanto me fazes lembrar de Oneill?
Preciso que escrevas.
Beijos mil
de Buenos Aires
Ilda
...mas isto é tão completamente o que eu senti a última vez em que lá fui com mais ninguém... Mas tanto. Eu fui lá para que tu escrevesses isto. E a ironia está onde?
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