Deixai-me contar-vos isto, que nada tem, nem é.
Era, ou foi, na noite de 24 de Junho. Comemorava-se o santo pastorinho, o João, o do cordeirinho. Tinham engalanado de fita-cor o candeeiro, o arbusto, o cruzeiro, o contentor municipal até.
Meio bidão, cortado na longitudinal, safirava de brasas. Grelha, grade e trempe suportavam a prata do mar a que só chamamos sardinha por tão maus mineiros sermos. A senhora do café ofereceu um pote de caldo verde. Outra senhora, de chita e joanetes, apareceu com uma tarte de ananás. Sangrou-se o garrafão. A broa, muito telúrica, deu de bojo à faca. O ar da respiração era arranhado de cassetes binárias com a pior alegria musical do mundo.
Apresentei-me com duas mulheres ao baile sem orquestra. Homens avançavam em câmara lenta. Mulheres resguardavam os colos mamários, digo que do frio. Um cão exercia a humildade republicana dos sem-dono. Estava tudo pronto, então, e então o vento frio começou.
Começou por caiar as camisas. Avivou a safira e a prata. Levou logo os guardanapos de beiços e papel. Fez o cão mudar de topografia. Trouxe o hálito da neve. Um dos homens soergueu ainda o garrafão como um colossal cálice de palha, mas já alguém guardava o ananás da tarte. Os dois autarcas presentes cumprimentaram e foram-se embora no bmw emprestado. Foi a debandada.
De repente, estava tudo no café a pedir café e aguardente, que boa foi a festa. Como quem não quer a coisa, fez-se lume no lar. Quatro homens pediram cartas e jogaram-nas.
Eu ainda fui lá fora consultar as estrelas, ardia delas a prata no meio bidão, era já dia 25.
Era, ou foi, na noite de 24 de Junho. Comemorava-se o santo pastorinho, o João, o do cordeirinho. Tinham engalanado de fita-cor o candeeiro, o arbusto, o cruzeiro, o contentor municipal até.
Meio bidão, cortado na longitudinal, safirava de brasas. Grelha, grade e trempe suportavam a prata do mar a que só chamamos sardinha por tão maus mineiros sermos. A senhora do café ofereceu um pote de caldo verde. Outra senhora, de chita e joanetes, apareceu com uma tarte de ananás. Sangrou-se o garrafão. A broa, muito telúrica, deu de bojo à faca. O ar da respiração era arranhado de cassetes binárias com a pior alegria musical do mundo.
Apresentei-me com duas mulheres ao baile sem orquestra. Homens avançavam em câmara lenta. Mulheres resguardavam os colos mamários, digo que do frio. Um cão exercia a humildade republicana dos sem-dono. Estava tudo pronto, então, e então o vento frio começou.
Começou por caiar as camisas. Avivou a safira e a prata. Levou logo os guardanapos de beiços e papel. Fez o cão mudar de topografia. Trouxe o hálito da neve. Um dos homens soergueu ainda o garrafão como um colossal cálice de palha, mas já alguém guardava o ananás da tarte. Os dois autarcas presentes cumprimentaram e foram-se embora no bmw emprestado. Foi a debandada.
De repente, estava tudo no café a pedir café e aguardente, que boa foi a festa. Como quem não quer a coisa, fez-se lume no lar. Quatro homens pediram cartas e jogaram-nas.
Eu ainda fui lá fora consultar as estrelas, ardia delas a prata no meio bidão, era já dia 25.
Caramulo, tarde de 29 de Junho de 2006
3 comentários:
Como é que algo que "nem é" consegue ser "tanto" ?
há receita para isso: ter alguém assim como tu
Onde o nada se converte num tudo cheiíssimo de tanto é o que o Daniel contínua, doce e brutalmente nos vem ensinando há trinta, quarenta anos. Ele diz que não e tem razão, mas eu pensarei sempre que o seu, este, é o melhor moralismo de todos. É uma coisa quase litúrgica, evangelizadora e bíblica: "Tomai e bebei todos. Dai atenção. Fazei isto em memória de sim"
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