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MIRANDO QUEM MIRANDA
Coimbra, sábado, 29
de Fevereiro de 2020
(...)
II. MIRANDO QUEM MIRANDA
In memoriam viva de
Luís Manuel Vide
Miranda
(22 de Março de 1960
– 29 de Agosto de 2019)
Apresentei-me
algodoado a negro de camisa
no
funeral de Luís Manuel Vide Miranda.
Acabava
Agosto, cuja ardente febre matiza
cada
pobre-de-deus que por ’qui ’inda anda.
Hoje
tomo cafés em bares sem Tony de Matos,
não
é fácil lavar o corpo totalmente órfão.
Vi
dois homens perdidos: mas era(m) ao espelho.
Hoje
não sei amanhã, o meu nome é Ontem.
Ana
Cristina & João Gil sobram da conta-feita.
Luís
pertence ora a ser sombra em frase.
Quando se junta 'a’ a ‘a’, dá-se uma crase:
à crise dou o
nome , o teu nome, velhíssimo Luís.
O
sol manchava de branco a minha ínfima negritude.
Sepultámo-lo
em Águeda, a caixa mal cabia na pedra,
a
dor da vida subia a ser o sol do dia,
vá-lá-com-deus-meu-pobrezinho-sol-&-saúde!
Não
conheço a cal de giz de lua em que anda
a
ossatura total de Luís Manuel Vide Miranda.
Nem
a morte anunciada lhe descortino,
que
a vida só dele me vale, velho menino.
Ele-Luís
lava-se em ser Pai de João-por-Ana,
conheço
dele sozinho frases que só à noite se dão.
Cancro-de-homens,
certa genealogia o leva
à
dissipação, ao Luís, à dissipação.
Fica-nos
enfim a doçura da música bem ensinada.
O
Luís vem do Zaire-Águeda-Coimbra-Louriçal.
Achego-me
agora em verso a tal animal,
nós
fomos (por tudo) quási-quási nada.
Onde
hoje falo sou território do país da minha Filha,
mas
é que sou vivo, e tu, nosso João Gil?
Tons
são tão cores quão acordes, é uma ilha
cada
ser provindo de razões zero até mil.
Resolvo
o sol fraco da minha sexta-feira a sós,
não
sei se há ensaio de cavaquinhos sem voz:
a
de Luís Manuel Vide Miranda, o perseguidor
da
dor que se bebe por puro pundonor.
A
vida vai fazer-se sábado sem ti, Luís Manuel.
O
mármore é gravado, é crematório.
Tu
deste, professor, a abelhas mel.
O
Viriato etc. & etc. o Sertório.
Juntas
cifras digitais a cavaquinho,
bebes
& vives & morres tão sozinho.
Na
Associação, tua última agremiação,
és
o Luís, o Maiúsculo, tua mesma perdição.
Luís
Manuel Vide Miranda, eu leio o teu cancro,
deve
ser tristíssimo deixar filho & mulher:
eu
era para os cavaquinhos, mas quem me quer?,
dissemos
no bagaço o nosso mais amplo
Sim. Eu falo com a minha Leonor. Sim, Zuca,
É
bom. Uma vez, noite, na Associação,
tocámos
para o Lucídio Évora Fernandes, o Tuca,
o
mesmo bagaço que nós, ó coração.
Não
é possível ir de camisa preta ao teu nascimento.
Sou
grato à minha morte em Amigos adiada.
A
tosse do opel-corsa faz gasóleo-de-momento.
Miranda-Luís,
Abrunheiro-Daniel & nada.
Devagar
vai João Gil a seus acordes,
a
alegria de nascer?, nem a percebe.
O
preto extremo-esquerdo tem o pé-leve,
tu
incendeias, Amigo, tu já só ardes.
Iço a pedra em Águeda.
Não (se) calou a música.
Tenho-me
homem difícil
Olha,
tu diz alguma coisa daí.
Etc.
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