Perspective
– © Maria Popova
20.
ROL DE PEQUENOS-TUDOS
Coimbra, sábado, 7
de Março de 2020
I
Uma
frase breve suficientaria o dia
–
mas nada acorre ao regaço auditivo próprio.
Resta-me
a frase mesma a ninguém di(t)a
–
mas mal nenhum por tal, como é óbvio.
(II)
(Dias
expostos ao sol como ossadas?
Conheço:
são os meus, de toda a gente.
De
seguida, tudos-pequenos-nadas
encolhem-se
placento-fetalmente.)
(...)
IV. ROL
Frúo
o meu luxozito: particularitas coisitas de auto-amestrado. Vagas (que são ondas
também) paginações. Capas felizes. Rodapés demiurgos. Certeza de morrermos
todos sem apelo & com agravo.
V. MARIA (MINHA TIA) DA EXTINÇÃO
(em versos, uma reparação)
Triste
& inútil deveras & de facto eu seria, por nada,
Para
sempre se V. não dissesse de minha Tia Maria.
Maria
da Extinção dos Santos nomeada,
Benzida
& baptizada, minha ida Tia Maria.
Triste
& inútil toda tanta minha aprendizagem,
Acaso
se de Extinção V. não desse relíquia-d’imagem.
Maria
da Extinção & extinta, hoje nada:
Mas
soberana efígie de minha linhagem.
Toda
tonta, tenta tanta tinta aprendizagem,
Verdade,
ligar-me ao menos a vozes não-capciosas,
A
versos que deveras vieram ser rosas,
Como
foi o caso d’Aragão-Isabel, pão-na-imagem.
De
Santa Clara é extinta uma Filomena.
Refiro-me
a Coimbra não-hagiológica.
A
falta de leitura é mijagógica:
Tem
porém o condão de me causar pena.
A
minha Tia Maria da Extinção
Morreu
enxuta de ventre, nunca pariu.
Nenhum
Daniel a guardou no coração,
Nenhum
nome outro a tirou do frio.
Aprender
a escrever é importante mas pouco.
Aprender
a escrever-se é-o mais – mas que o ver-se menos.
Mesmo
ao mudo sucede ficar rouco.
Cus
são có(s)micos buracos negros – mas mais pequenos.
Entretenho
a saudade da minha Tia Extinta,
Que
pó na lama é junto aos demais:
Digo:
os meus Irmãos & ambos seus/meus Pais,
Lá
onde o Cardal é a última quinta.
A
minha Extinta-Maria é como ler Joel Serrão,
Sei
lá, ou Prado Coelho (o pai, o filho não),
Ou
ler a Sophia sem o filho canastrão,
Cocó-ró-ão-ão,
faz, canta & ladra o galo-cão.
(...)
Recordo:
a cozinhazita dela tão casa-de-fósforos,
Ao
fundo do Lagar Velho lá na Pedrulha.
Tantos
balcânicos-filhos-doutros, tão bósforos!
Tanto
calendário-do-papa-pomb’-arrulh’-arrulha!
A
Senhora Maria Minha Tia da Estação
Morreu
à fome por EnteroCancr’Obstinado.
A
cama que foi dela, ferro, teve habitação,
Primo, minha, hoje do meu Irmão Fernando.
Recordo:
sou um fauno em bosque sem cheiros,
Criança
vera, talvez seis anos, não muito mais.
Vou
a casa da Tia, são os meus dias primeiros,
Ela
é a virgo-nenhuma de católicos carnavais.
Parece
ter acoplado, sendo solteira,
Com
um incerto casado lá da ferrovia.
Parece
que o irmão fez disso terratremideira
&
ex-ulissou para sempre penélope-maria.
Não
sei se. Maria. Minha. Carlos-pai-de-minha-Mãe.
Mas
também: aquilo que insistia, mais além,
Quem
vem a ser meu Pai, Antuzed’Abrunheiro.
Sei
o que, século-XXI, absurd’inteiro.
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