Ela por ela
1 Sofia Sócrates,
aluna da Escola Secundária Sá da Bandeira, em Santarém: “Existem muitas formas de ditadura, e hoje é contra ditaduras sem
rosto, silenciosas e invisíveis, que temos de continuar a lutar.”
Estas
palavras vêm na página 9 da edição imediatamente anterior a esta deste Jornal.
Foi na peça intitulada “Tributo a
Salgueiro Maia marcou início das comemorações de Abril”. Comento-as assim:
jovens, antigas, definitivas, sábias palavras. A maravilha é provirem de alguém
nascido em 2000 (d.C.). Não é coincidência que o nome grego Sofia signifique, precisamente, Sabedoria.
2 A minha filha
Teresa, como Sofia, nasceu também no ano 2000. Foi outra revolução. Outro
cravo, rosa sendo. Outro movimento de tropas. Outra madrugada perpétua. Foi,
foi. Recordo sem esforço o perfume dela manando dos primeiros linhos. Digo: a
neve imaculada da sua brancura sem senão. Minha filha, disse. E filha de Abril
também, nascida embora em Janeiro. Filha de Abril como Sofia Sócrates.
3 Os CTT (que Deus
tem) não são já aquela coisa fiável que já foram. Por isso, a minha assinatura
em papel de O RIBATEJO só me chega a
casa quando eles não estão demasiado
ocupados a tratar do que mais deveras lhes interessa – o Banco CTT. Assim, só
uns dias depois li as palavras da menina Sofia Sócrates a propósito do 25 de
Abril e do gigante Salgueiro Maia. Ainda assim, aprendi-as a tempo de ser feliz
por causa delas. A Sofia & a minha Teresa têm dezoito anos – meros menos
trinta, portanto, do que durou a infecta podridão salazar-fascistóide. A
liberdade, todavia, torna-as da idade de Portugal.
4 Tudo isto tem de
ter a ver mais com o nascer do que com o morrer. E tem tudo a ver com o saber.
Neste sentido: o saber só pode tornar-se moderno quando nasce clássico. Quando
servir para sempre. Quando for completamente humano. Isto é: quando é
totalmente humanista. Quando sabedoria e filantropia rimam na perfeição. Sim,
Sofia, ele anda por aí muita ditadura
invisível. Como a da ignorância. Como a da corrupção. Como a do desemprego.
Como a do tempo de espera por uma consulta hospitalar. Como a do esvaziamento
curricular das escolas. Como a do fanatismo futeboleiro. Como a da estupidez
televisiva. Como a do desamparo dos idosos. Como a da poluição impune da
Mãe-Natura. Como a do escarro no rosto em que consiste o salário mínimo. Como
as dos tolos eleitos por tolos. Sim, Sofia, sim: temos, mesmo, de continuar a
lutar.
5 Escrevo na manhã de
terça-feira, 10 de Abril de 2018. A Batalha de La Lys, em cujo nevoeiro
sebastiânico tantos mil Portugueses se perderam, foi ontem + 100 anos. O
nascimento do senhor meu Pai faz hoje 101 anos. Fica ela por ela. Ela por ela?
Sim. Na mesma página 9 do nossO RIBATEJO,
mais estas palavras da juvenil estudante do santareno Sá da Bandeira. Invocando
o capitão Salgueiro Maia, diz: “Obrigado
por nos teres aberto o caminho, e nos fazeres ver que é possível sermos livres,
se o quisermos realmente ser.” O meu Pai tê-las-ia compreendido de
imediato. Suponho que os Portugueses de La Lys também. Ser livre é querer. E é
crer, também. Ora, gente como a minha Teresa & como tu, Sofia, tornam
crível o País. E gloriosa a manhã de amanhã. Ela por ela.
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