Mais dois casos
esquisitos cá co’ a malta ribatejana
O
epicentro dos fenómenos esquisitos parece ter, de vez, deixado de ser exclusivo
do ferroviário Entroncamento para abranger a totalidade desse território a que
em Portugal chamamos Ribatejo.
Os
“casos” mais recentes têm nome de gente: Arlindo Consolado Marques & Pedro
Barreiro. O primeiro é um ambientalista amador por pulsão de dever
cívico-ecológico. O segundo é um homem das artes de palco cultoras de Tália.
Arlindo
vê-se agora em apuros de tribunal ao ser constituído arguido por alegada
difamação e suposto ataque doloso ao “bom-nome” de uma potestade celulósica.
Pedro é filho de quem é.
Depois,
as coisas emaranham-se: o Tejo está porco à vista até dos mais cegos; uma
actriz desnuda em cena e capaz de uma linguagem escabrosa configura, não um
atentado ao bom-gosto e ao bom-senso, mas a prova de que a Cultura é um
contrapoder.
Ora,
as pessoas do poder não gostam de contrariedades. As do poder do dinheiro não
querem abelhudos sicofantas como Arlindo. As do poder político detestam
manifestações culturais que não alinhem no apimbalhamento atávico, acéfalo e
acrítico da carneirada.
Posso
dar um contra-exemplo: ninguém espera ver uma vereadora nua em plena assembleia
municipal bolçando obscenidades verbais. Ninguém. Não é sítio para isso. Mas,
sabeis?, há asneiras que não são da boca para fora, antes sim da vista para
dentro. Obsceno, senhores, é o abandono do centro profundamente histórico da
capital ribatejana; pornográfica, senhoras, é a podridão a céu-aberto do Tejo;
malcriado, rapazes, é o contentor prenhe de lixo dos pés à tampa; impertinente,
raparigas, é o esvaziamento turístico de um património que tinha (e continua a
ter) tudo para justificar romarias pagantes pró-desenvolvimento local.
Mas
o que é que aconteceu a 1 de Outubro último? Aconteceu que as pessoas exerceram
o seu incontestável direito democrático à burrice, reempossando nos lugares de
mando autárquico mais do mesmo nada. Ou por clubismo partidário ou por
abstenção, foi o que foi. Lembram-se das barreiras por consolidar? Lembram-se
da estrada encerrada? Ninguém se lembra, cuido bem (mal) que ninguém se lembra.
Dividida, a Esquerda ribatejana deu o ouro ao bandido. (“Bandido” por assim dizer, atenção, ó melindrosos senhores do
Ministério Público! Linguagem figurada é de antemão perdoada. Vêde bem se ainda
me pondes réu por delito opinativo…)
Confio,
apesar de tudo, na absolvição de Arlindo. Já confio menos no castigo dos
diversos predadores-poluidores do Tejo. Quanto a Pedro, nova corrida, nova
viagem. Deixa obra feita no Sá da Bandeira. Sai de pé e de cara lavada. Os
actos (não os teatrais) ficam com quem os pratica.
Nisto,
cai o pano. E a nódoa nele.
Sem comentários:
Enviar um comentário