02/10/2015

Rosário Breve n.º 425 - in O RIBATEJO de 1 de Outubro de 2015 - www.oribatejo.pt



Abrantes à Frente

Em Fevereiro de 1922, o jornal Ecos de Tomar tabulava o seguinte quadro (tudo sic):

População do Concelho de Thomar
Em 1 de Dezembro de 1920

Alviobeira…. 1030
Asseiceira…. 3175
Beberriqueira…. 2865
Bezelga…. 1462
Carregueiros…. 1959
Casaes…. 3611
Junceira…. 1426
Madalena…. 2648
Olalhas…. 2514
Paialvo…. 2936
Sabacheira…. 1629
Serra…. 3810
Tomar….  8108

Total…. 37176”

Em adenda, uma lista que hoje nos pode parecer estranha mas cuja notação deveria ser demograficamente importante naquela era em que o saudoso senhor meu Pai (nascido em 1917) perfazia três/cinco anos de idade apenas:

No concelho
existem:

Cegos dos dois olhos…. 38
Cegos de um olho…. 56
Surdos mudos…. 21
Alienados…. 12
Idiotas…. 27
Aleijados…. 118”

Ao que ouvi escrever, o sobredito Concelho andará hoje pela casa das quatro dezenas de milhar de pessoas. Não sei pelo seguro – há décadas que não vou à manuelina, templária e tabuleira Cidade Nabantina. Também não sei quantos cães. Quantos gatos. Quantos pardais. Quantos lagostins-do-rio. Sei isto: que há por aqueles arredores uma povoação chamada Galveias. Correspondi-me, no tempo das cartas em papel, com uma pessoa de lá. Foi em 1981, eu era moço e escrevia. Então, ainda não escrevivia, não adoecera ainda de Literatura. Tudo lá vai & p’ra cá não volta.
Alguma coisa alternativa, sei. Por exemplo: o “h” do “Thomar” inicial e titular desapareceu no fim da primeira tábua. Uma das duas formas tem de ser a correcta, suponho. É como na vida: não se pode errar tudo, não se deve ser humano sempre.
Também sei que gastei bons minutos ante o afinal claro e afinal enigmático quadro. Por e para quê determin’especificar tão duramente as cegueiras, as semicegueiras, a surdomudez, a alienação, a idiotia e os aleijões? Fiquei a bater mal da moleirinha. O saudoso senhor meu Pai ficou coxo por volta de 1930. Se, em vez de Coimbra, houvesse nascido em T(h)omar, ter-se-ia safado, em 1920/22, a integrar os 118+1. Isso parece-me retrospectivamente bem.
Qualquer coisa de medievo, de separatista, de preconceituoso se me urdia na leitura de tal apartheid. Até porque a ser, como foi, assim, faltava ali, e falta, muita coisa. O quantos bêbedos, por exemplo. O quantos cornos. O quantos neurasténicos. O quantos depressivos. O quantos deprimentes. O quantos poetas. O quantos solteiros. O quantas viúvas. O quantos nostálgicos da monarquia. O quantos guarda-rios. O quantos polícias. O quantos médicos para quantos doentes. O quantos professores. O quantos desiludidos. O quantos iludidos. E o quantos que eram de fora mas vieram casar-se e/ou morrer ali. Tudo coisa de suma importância, parece-me, que me desaparece.
Enfim.
Tomar, Cidade & Concelho, de hoje – como é? Quantos é? Vai integrar sírios & afegãos & coiso? Urge actualizar a informação. Urge, urge. Disseram-me que, no tal ano postal meu de 1981, a população somava 45.672 habitantes. E que trinta anos depois, em 2011, descera para 40.674 pessoas. Desconheço a lealdade de tais numerações. Confio, todavia, na bondade da ignota fonte numerário-demográfica. Ainda confio qualquer coisita. É como na vida: não se pode desconfiar de tudo, não se deve ser desumano sempre. Mas.
Mas vou querer saber, dia 5 de Outubro próximo, quem em Tomar, Cidade & Concelho, na véspera votou em quem. Aí sim, procederei a limpa e segura actualização. Conforme o total de cruzes pró-coelheiras, pró-portaseiras e pró-costeiras, saberei limpamente quantos cegos dos dois olhos, quantos idem de um só, quantos surdos-mudos, quantos alienados, quantos idiotas & quantos aleijados.
E depois hei-de thomar nota disso.
Abr’antes atrás.




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Canzoada Assaltante