Abrantes à Frente
Em
Fevereiro de 1922, o jornal Ecos de Tomar
tabulava o seguinte quadro (tudo sic):
“População do Concelho de Thomar
Em 1 de Dezembro de
1920
Alviobeira…. 1030
Asseiceira…. 3175
Beberriqueira…. 2865
Bezelga…. 1462
Carregueiros…. 1959
Casaes…. 3611
Junceira…. 1426
Madalena…. 2648
Olalhas…. 2514
Paialvo…. 2936
Sabacheira…. 1629
Serra…. 3810
Tomar…. 8108
Total…. 37176”
Em
adenda, uma lista que hoje nos pode parecer estranha mas cuja notação deveria
ser demograficamente importante naquela era em que o saudoso senhor meu Pai (nascido
em 1917) perfazia três/cinco anos de idade apenas:
“No concelho
existem:
Cegos dos dois olhos…. 38
Cegos de um olho…. 56
Surdos mudos…. 21
Alienados…. 12
Idiotas…. 27
Aleijados…. 118”
Ao que
ouvi escrever, o sobredito Concelho andará hoje pela casa das quatro dezenas de
milhar de pessoas. Não sei pelo seguro – há décadas que não vou à manuelina,
templária e tabuleira Cidade Nabantina. Também não sei quantos cães. Quantos
gatos. Quantos pardais. Quantos lagostins-do-rio. Sei isto: que há por aqueles
arredores uma povoação chamada Galveias. Correspondi-me, no tempo das cartas em
papel, com uma pessoa de lá. Foi em 1981, eu era moço e escrevia. Então, ainda
não escrevivia, não adoecera ainda de Literatura. Tudo lá vai & p’ra cá não
volta.
Alguma
coisa alternativa, sei. Por exemplo: o “h”
do “Thomar” inicial e titular
desapareceu no fim da primeira tábua. Uma das duas formas tem de ser a
correcta, suponho. É como na vida: não se pode errar tudo, não se deve ser humano
sempre.
Também
sei que gastei bons minutos ante o afinal claro e afinal enigmático quadro. Por
e para quê determin’especificar tão duramente as cegueiras, as semicegueiras, a
surdomudez, a alienação, a idiotia e os aleijões? Fiquei a bater mal da moleirinha.
O saudoso senhor meu Pai ficou coxo por volta de 1930. Se, em vez de Coimbra,
houvesse nascido em T(h)omar,
ter-se-ia safado, em 1920/22, a integrar os 118+1. Isso parece-me
retrospectivamente bem.
Qualquer
coisa de medievo, de separatista, de preconceituoso se me urdia na leitura de tal
apartheid. Até porque a ser, como
foi, assim, faltava ali, e falta, muita coisa. O quantos bêbedos, por exemplo.
O quantos cornos. O quantos neurasténicos. O quantos depressivos. O quantos
deprimentes. O quantos poetas. O quantos solteiros. O quantas viúvas. O quantos
nostálgicos da monarquia. O quantos guarda-rios. O quantos polícias. O quantos
médicos para quantos doentes. O quantos professores. O quantos desiludidos. O
quantos iludidos. E o quantos que eram de fora mas vieram casar-se e/ou morrer ali.
Tudo coisa de suma importância, parece-me, que me desaparece.
Enfim.
Tomar,
Cidade & Concelho, de hoje – como é? Quantos é? Vai integrar sírios &
afegãos & coiso? Urge actualizar a informação. Urge, urge. Disseram-me que,
no tal ano postal meu de 1981, a população somava 45.672 habitantes. E que
trinta anos depois, em 2011, descera para 40.674 pessoas. Desconheço a lealdade
de tais numerações. Confio, todavia, na bondade da ignota fonte
numerário-demográfica. Ainda confio qualquer coisita. É como na vida: não se
pode desconfiar de tudo, não se deve ser desumano sempre. Mas.
Mas vou
querer saber, dia 5 de Outubro próximo, quem em Tomar, Cidade & Concelho, na
véspera votou em quem. Aí sim, procederei a limpa e segura actualização.
Conforme o total de cruzes pró-coelheiras, pró-portaseiras e pró-costeiras,
saberei limpamente quantos cegos dos dois olhos, quantos idem de um só, quantos
surdos-mudos, quantos alienados, quantos idiotas & quantos aleijados.
E depois
hei-de thomar nota disso.
Abr’antes
atrás.
Sem comentários:
Enviar um comentário