Vou ali ver se vejo
Extinto
o Estio em os fumos sem fogo dos pretéritos acabados, acontecem fora
de grande pasmo as tropelias do outonecer invernoso. São manhãs já grisalhas à
nascença, tardes bafientas como quermesses de sacristia, noites engelhadas como
peles outrora seminais. É natural. Faz parte. A Grande Roda é isto e isto
mesmo.
A
chatice está no aluir dos casarões devolutos. São berbicachos administrativos
de alto-lá-com-o-charuto. Solidões geriátricas, óbitos, heranças, sobrinhos
remotos, primalhada íncola que se está nas tintas – um ror e um horror de bens
ao luar que a indiferença atira ao regaço dos municípios como quem dá uma
esmola maligna. Depois, o mal acontece e pouco remédio tem.
Foi
o caso da casa da Rua do Pocinho, ali à Ribeira de Santarém. Pelo anoitecer de
sábado passado, 17 do corrente, as velhas paredes deram de si sem dó. Houve que
demolir o resto, claro. O problema era a estrada atulhada de tantas misérias
aluídas. Já só muito tarde (domingo cedo, isto é) a circulação derredor foi
restabelecida. Entre Almeirim e Santarém, só pela ponte Salgueiro Maia. Como há
bem mais de um ano que a EN114 continua amordaçada pela incúria dos desmandados
mandantes, os devotos de Santa Margarida encostam-se ao que podem, coitados,
enquanto as fantasiosas e utópicas obras de estabilização das barreiras não
põem os catrapilos a fumegar. Ninguém se aleijou, é o que vale. Desta vez.
Mais
cómica é a situação do passeio desnivelado em Pernes. Mas atenção: cómica,
enquanto alguém não esgalhar por ali um perónio ou der um daqueles bate-cus que
seccionam a medula-espinhal. Parece que algum engenheiro tipo domingo-de-Agosto
por ali projectou uma língua pedonal que saliva de lado como os bêbados
felizes. A confusão mete ingredientes de construção de espaço comercial no
centro da Vila, amailos limites do edifício, amailo o desgracioso adernar do
passadiço pró-peão. Agora que chove dos cântaros de Deus, que Ele a dá, se a
coisa descamba para o escorrega-tem-te-não-caias, o mais certo é à maltosa de
Pernes acontecer o mesmo que ao casario velho da santarena Rua do Pocinho.
Enfim: cornos ao lume e fé nas castanhas, que o tempo é destas & daqueles.
Nos
entrementes, os concelhos de Abrantes e Mação deram também para o charco
pluviométrico. Sobrevindo umas bátegas boas na passada segunda-feira, 19, ele foi
todo um estendal de estradas, caves e garagens afogadas como gatinhos em saco
de serapilheira. Comércios e bens particulares rangeram e doeram. Gente houve
sitiada nos próprios veículos, como em Alferrarede e no Cabrito, valendo-lhe a
pertinácia sempre generosa do bombeiral. É natural. Faz parte. A Grande Soda é
isto e isto mesmo. Não há aqui política – é tão-só o Criador a brincar às
destruiçõezinhas para entreter a modorra da eternidade.
E
agora que a crónica já caiu, já escorregou e já choveu, nota final para uma
pena minha: a de não ter estado nem dia 16 nem dia 17 na Azambuja. Havia lá
teatro de revista com participação do antigo herói romântico da minha Irmã – o
senhor António Calvário. Antigo, quando muito moço, Rei da Rádio, Ídolo TV (sem
favor e, sobretudo, sem comparação com as celebridades
de cocó dos nossos dias), é homem que ainda por aí canta e por aí faz pela vida
ainda. “Mais Riso É o que É Preciso”
se chamava a tal revista.
Quanto
a mais siso, vou ali ver se chove.
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