30/01/2014

Rosário Breve n.º 343 - in O RIBATEJO de 30 de Janeiro de 2014 - in www.oribatejo.pt




Projecto esverdeado por uns olhos

Os sonhos são para se ter a dormir.
Os projectos são para se ter quando acordado.
Os meus sonhos são estapafúrdios (como o são, suponho, os de toda a gente), mas os meus projectos são simples. São simples e são poucos.
Um deles consiste tão-só nisto: ir, um destes dias menos agrestes, tomar café àquele Vale a que Santarém dá nome e que a Santarém franqueia o Sul. A Vale de Santarém chegado, muito prazer me viria de, permeando o portal da Sociedade Recreativa Operária local, encontrar quiçá a senhora Teresa Horta e/ou o senhor Alfredo Silva, habitantes que são daquela geoformosura apenas maculada pelos fedores residuais do (deficiente) tratamento de imundícies. Com ela e com ele à cavaqueira a mais amena, julgo o mais crível este cenário: o senhor Alfredo evocando o poeta local que de nome houve João d’Aldeia, autor assinante da quadra consagrada e honrada em azulejo a azul-nascente:
Lavadeiras que lavais
Na água doce e branquinha
Nos suspiros que vós dais
Está toda a esperança minha.
E de pronto, certo disso estou e fico, a senhora Teresa ajuntaria ao lume oratório a suave cavaca do espectro benigno e gentil da Joaninha dos Olhos Verdes, essa feminil e virginal musa de rouxinóis que o grande Almeida Garrett ali vincou e fincou para sempre, entre as águas que correm no Tempo que se não cansa, nas nunca por de mais celebradas Viagens na Minha Terra.
Há tempos já que tal projecto me incandescia o íntimo escrivão, mas a coisa agravou-se quando, a 8 de Dezembro passado, vi uma breve reportagem da Local Visão TV. Tomei notas logo, muito bem de antemão sabendo eu que de algumas me adviria o presente cronicar. Por e de tais imagens, foi-me possível, sem esforço algum e sem do sofá levantar o fofo cindido, voltar a subir ao diadema vivo das Portas do Sol, sentindo à esquerda essa jóia (i)memorial chamada Casa-Museu Passos Canavarro e, a toda a larga volta, o esplendor elástico que o régio Tejo, qual veia aberta, atira em poalha de cobalto à pureza inefável e diáfana do ar, esse ar que só no Ribatejo assim se pode respirar com os órgãos da vista. A luz, muito alta e muito irrígua, toma conta de um gajo sem lhe pedir, e muito menos lhe dar, explicações.
Deixei-me por ali estar quanto pude, saciando de saúde as sílabas e os pulmões, cuidando só de não sentir essa fome que, parece, um tal senhor chamado Tiago Leite, afinal mero nosso empregado porque funcionário público, abespinhadamente afiança que só passa quem quer, por mais pobre, no distrito a que Santarém dá nome também.
À noitinha, porém, a realidade, que não se compadece nem de sonhos nem de projectos, muito menos de sonhadores e de projectistas, contou-me os caracteres e mandou-me encerrar a crónica: foi quando a minha Senhora (que me esmolou comigo se casando), mui alquebrada de honesta fadiga, chegou a casa. Arguta como pardal e bífida como é da fêmea serpentina condição, deu logo por que sobre a mesinha-de-centro havia não uma mas duas chávenas de ex-café. A de excesso não podia ser minha – era, claro, a da clara Joaninha.
Ou a de toda a esperança minha


23/01/2014

Rosário Breve n.º 342 - in O RIBATEJO de 23 de Janeiro de 2014 - www.oribatejo.pt

A mesma história duas vezes

Por ocasião dos primeiros dias do ano corrente, apareceu vadiando pelas imediações do bairro onde assentei praça para a vida um gato. Bonito, masculino, sozinho, o todo dele parecia-se demasiado com o nada, mercê do golpe sem mercê do abandono. Pela esplanada da pastelaria, o animal roçava-se pelas pernas humanas dos sentados, mais mendigando afagos na cabeça do que comida. Conto-me entre as pessoas que se condoeram do bicho, decerto perdido de carinhos até então usufruídos. Não mostrava feridas para além da do olhar, que catrapiscava desamparo a milhas longas. Um dia, na passagem coberta entre prédios, apareceram duas taças plásticas, uma com água fresca e outra com ração seca própria para felídeos. Comecei a trazer a minha contribuição diária.
Pelos mesmos entretantos, ali-além, à beira de uma vala que delimita a oriente um terreiro de feira, fiz outra descoberta. Existe nesse azimute um cubículo pré-fabricado, desses que servem de guarita de billheteira para os certames pimbas tão ao gosto da populaça de alegada ascendência lusitana. Como o gato referido supra, também o cubículo amanh’anoitece todos os dias em abandono. Até começar o ano.
Aconteceu que, debruçando-me eu para içar do chão o guarda-chuva, que se me escapulira do antebraço do lado do relógio, me foi dado sentir que a minha pluvial e proverbial solidão não estava tão sozinha quão de costume. E não estava: reerguido, vi pela janela estilhaçada da ex-bilheteira um homem quase ainda rapaz lá dentro. Também sozinho, também masculino, talvez bonito quando criança com casa de pais ou mulher. Estava lá dentro deitado, por paradoxo, entre cartões de embalar frigoríficos para se aquecer, que o Janeiro tem andado de modos frígidos. A minha cabeça assustou-o. Como que devassado, mirou-me em cautelas defensivas. Tivera ele asas – e estou certo que teria despassarado dali num fósforo de tempo. Por respeito, por embaraço também, murmurei-lhe Desculpe e despassarei eu de chapéu, guarda-chuva e gabardina, que até parecia o Jacques Tati. Na crónica que de imediato senti não poder deixar de escrever, guardo o olhar dele: fulgia daquela brasa álgida tão própria dos que perderam tudo menos a certeza de a vida ser uma estéril meretriz quando lhe apetece.
Levei-me para outra geografia onde as chuvas não doessem tanto na almácega do coração. Tão cedo, não volto lá a passar. Não é que eu não tenha em casa comida de gente para partilhar com ele. O meu receio é que, levando-lhe algum pão, me distraia a ponto de, sem que ele mo peça ou de mim o espere, ainda acabar por lhe fazer algum afago na cabeça.


20/01/2014

BAILE SOZINHO ou O INVERNO DE QUELUZ, 48, Leiria, manhã de 11 de Maio de 2013, sábado

48

Leiria, manhã de 11 de Maio de 2013, sábado


Para onde vai o mundo, digo, onde se metem
as pessoas que ao meio-dia desertam a feira?
Por que imperioso desígnio fica tudo tão vazio?
Ao cabo de tantos anos de trabalho, adentram-me
a escrita esta preocupação e outras afins, não sou
um narrador de viagens heróicas, nunca fui

tal coisa. Tenho pelo menos essa decência, já não é
mau de todo. Pela tarde, hei-de desertar, eu mesmo,
que feira? Já o Rio me chama, faz sol o ar,
há, ou dá-se, uma brisa decente & refrigerante,
uma pessoa pode flectir pelas bandas do realmente,
a écloga é possível e até provável no sábado.

Numa tenda beira-fluvial cozinham peixe em água-de-tomate,
a álea de freixos fica perfumada como uma sacristia,
muito eu gosto de sentir a felicidade simples das merendas,
que são lentas e lautas e pobres e tão dignas e tão históricas,
é uma bela coisa o anonimato do Povo, nem tudo
pode ser triste, devo insistir que não para sobreviver.

Ponho-me então a grafar sem a fúria já dos primeiros anos.
Daqui a pouco vou para casa algo valetudinariamente.
Sou tão português de aldeia, que chego a adoecer só
de pensar seja no que for, alguma coisa se me avariou
talvez para sempre, mas nem assim o pus do medo
me infecta a constância, o pão das pombas & o Diabo-por-ele.

16/01/2014

Rosário Breve n.º 341 - in O RIBATEJO de 16 de Janeiro de 2014 - www.oribatejo.pt




O Henrique, o David e eu com dentes novos

Pode ser uma chatice, isto de acordar às seis da manhã já vestido e na pastelaria já. À saída do transe, a vida põe-se toda a saber a bolos de ontem e a aguadilha de café refervido. Na nublação, as caras não chegam a rostos: parecem, antes, moedas gastas, trocos indiferentes de nota nenhuma cujo único câmbio áureo é o amarelo do alerta-idem que há semanas invernosamente varre o litoral continental de Norte a Sul.
A coisa agrava-se se, como segunda-feira passada foi o meu caso, for manhã de ir ao dentista. Lá estive, de bocarra escancarada como betoneira mole, exposto ao doutor que implacavelmente me garimpava poços novos naquela parte do corpo que uso para urdir sílabas, cuspos e ontens cariados. Mas estou melhor, obrigadinho, isto passa – como tudo passa.
“Toda a gente quer endireitar o mundo; ninguém quer ajudar o vizinho.”
Assim fala um homem chamado Henrique Moleiro. Por apreciar o que dele ouço, presto-lhe uma atenção mais por escrito. Não faz mal que tenham dado já as nove e ¼ e que por isso seja eu o único freguês da confeitaria, tirante a empregada, que é Deolinda e também sofre dos dentes. Não faz mal que Henrique seja de facto Henry e Miller em vez de Moleiro, que o que lhe ouço dizer esteja afinal escrito em Max e os Fagócitos Brancos, prosa que escancarei no tampo da mesa, à maneira da própria boca no trono reclinado do odontologista, para melhor suporte meu da realidade dos outros.
Faz-se entretanto horas-de-não-sei-quê. No entrementes, chega o David Jornaleiro com os jornais do dia para leitura gratuita dos fregueses. A Deolinda dá-lhe a esmola discreta do galão-pão-com-margarina, esta afinal sempre ajuda o vizinho ao contrário do que o Miller diz, o David é vizinho de toda a gente por ser sem-abrigo, isto de entregar os jornais pelos Cafés e de andar aos recados é um favor que lhe deixam fazer a troco do pão-margarina de cada dia. O mundo que se endireite por conta própria, afinal o David sempre faz pela vida, que a esperança pode ser a última a morrer mas cada um de nós é o penúltimo a fazer o mesmo.
O jornal traz a doutrina do costume: ex-maridos que, possessos de furioso ciúme venatório, caçadeiram as ex-mulheres, multibancos estoirados à botija, velhotes que, como pescadores em terra, amanhecem afogados dentro de poços a céu-aberto (como a minha bocarra no dentista segunda-feira passada, já não me lembro se Vos falei disso já), baixas mortais da guerra civil em que o trânsito rodoviário se tornou, Cavaco escrevendo Direita por linhas mortas. E São Cristiano Ronaldo, espécie de anjo feliz com lágrimas que, na esteira multigloriosa de Santo Eusébio, nos reitera o rotativismo monárquico-geracional do “rei morto, rei posto”.
Vale-nos, de França, que uma certa errante fragrância parisiense de sedosas saias e de anáguas emanuellianas, com furtivos motociclos abandonando de madrugada o ninho-de-amor à mistura, nos chega das peripécias com uma actriz até jeitosinha frequentada a nu pelo senhor presidente gaulês, monsieur que, por se chamar Hollande, sempre dá outro prospecto erótico a moinhos rouges e a tulipas abaixo do nível do mar em plenos Champs Elysées. Nos arredores tristonhos desse divertimento com Tour Eiffel ao fundo, aqui a maltosa cá vai aprendendo inglês pelo lado mais dark da moon, que é como por mania os Bifes chamam a uma coisa que se vê logo ser a Lua. Exemplos desse poliglotismo: bullying escolar (suicídio do miúdo de 15 anos no concelho de Braga), carjacking (com fartura e por todo o lado), rating (agências ratonas de Wall Street em desprezo total pelas Constituições ex-livres e ex-democráticas das nações), spread (manigâncias tipo usura-à-BPN), swaps (tipo papagaio-louro-de-bico-amarelo-põe-as-pensões-pobres-dentro-dum-chinelo): e tudo isto com sotaque à Lauro António, tipo léte-se-lu-két’da-trêila.
Indiferentes a tais apuros apenas humanos, porém, a Grande Roda do Tempo marcha em ímpia surdez rumo ao próximo Natal via Época-de-Incêndios-Caça-ao-Bombeiro-do-Verão. Que até lá, enfim, nos não doa fisicamente a cabeça. Ou os dentes. A mim de certeza que não, digo os dentes, que por essa altura já não hei-de ter nenhum dos naturais, por tê-los estragado com bolos tão de ontem como a vida, mas sim daqueles que fazem do sorriso um pequeno milagre feito de resina acrílica, cuspinhenta e silábica, ó Deolinda.


15/01/2014

Palavra "encómio" no Priberam refere-nos (a O Ribatejo e a um seu cronista): fixe, porreiríssimo da silva (por falar em Silva, obrigada pela chamada de atenção, FêJota)

http://www.priberam.pt/dlpo/enc%C3%B3mio

Esta palavra em notícias

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...incomparável sports(gentle)man afroportuguêsmuito encómio foi em boa-fé tecido,...
 Em O Ribatejo

"encómio", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/enc%C3%B3mio [consultado em 15-01-2014].

10/01/2014

Primeira crónica de 2014 - Rosário Breve n.º 340 - in O RIBATEJO de 9 de Janeiro de 2014 - www.oribatejo.pt

Meninos-da-trapeira também nós somos, enfim

A dobradiça que rangeu o pórtico da passagem do ano 13 para o ano 14 do corrente milénio nosso fez, como é do crepuscular costume dos ocasos, os seus óbitos ilustres e as suas terminações anónimas.
Gente comum houve que deixou de haver por o mar físico a ter levado. E gente outra foi levada pelo mar do Tempo, que ainda assim não logrou, dados dela o gigantismo colossal e dela o nome claro, roubar-no-la de todo. Falo de Nelson Mandela e de Eusébio da Silva Ferreira.
Tanto ao tribuno e estadista sul-africano como ao incomparável sports(gentle)man afroportuguês, muito encómio foi em boa-fé tecido, em uma impressionante universalidade que só pode resultar do mais elementar consenso em matrimónio com o mais curial bom-senso. Do passamento deste último, resultou-nos um baque no coração que nos trouxe à boca o amargor frustre do golo sofrido na própria baliza, que é como quem diz, sem nacional-sentimentalismos tolos, Pátria.
Muito a quente do acontecimento obituário deste homem que tinha pelo menos tanto de pantera negra quanto de gaivota branca, desta figura que como tão poucos humanos irmanou Beleza e Graça em sinonímia pura, escrevi, como se sobre os martirizados joelhos mesmos dele, umas breves horas depois da alvorada triste que determinou o furto, ao colar do Mundo, de tal pérola. Estas foram tais linhas:

Órfãos do menino-da-trapeira desde a madrugad’agora

Leiria, manhã de domingo, 5 de Janeiro de 2014

Órfãos do menino-da-trapeira desde a madrugad’agora:
às 3h30m, morreu Eusébio, o grande senhor Eusébio
da Silva Ferreira, que deixa viúva Flora e viúvo
Portugal.
Nascera em Moçambique a 25 de Janeiro de 1942.
Chamaram-lhe depois Pantera. Negra, naturalmente.
Vi-o três vezes nas nossas vidas:
uma, em Coimbra (perdeu por 2-0 com a Académica);
outra, em Coimbra também (os encarnados deram 0-4 ao meu União);
e outra, em Lisboa, no Cemitério do Alto de São João, tinha ele lá ido fazer as honras a alguém do dirigismo futeboleiro, enquanto, quanto a mim, passeava por ali lendo lápides, visitando o derradeiro sítio de Ramalho Ortigão, sentindo coisas para escreviver.
Sinto o mesmo, com exactidão o mesmo, que senti
quando, no ocaso do ano 1999, nos morreu a divina Amália:
dois colossos pátrios, duas pessoas melhores, dois artistas
de uma época que a eles deve, em boa ho(n)ra, ser imorredoura
chamada.
(E trapeira é bola de trapo, na terra batida da antiga
Lourenço Marques.)

Parece-me não ter andado em grande desacerto isto escrevendo. Lamento tão-só, a reboque de certa justíssima observação do meu Amigo Júlio Murraças no Facebook no próprio dia das grandes exéquias e das altas honras, não poder fazê-lo também a propósito de todos e de cada um que este País diariamente aniquila sem ao menos lhes volver meã a haste da Bandeira:
o idoso que comete o improvável crime geriátrico do envelhecimento e a quem uma reforma obscenamente miserável proíbe o medicamento paliativo e a higiene da dignidade;
o moço que incorre na insensatez de estudar e a quem a voracidade da besta hiante do troikapitalismo interdita o futuro agora-já;
o jornaleiro agrícola que, loucamente contumaz no intuito de fazer das próprias mãos duas estrelas férteis, vê impotente que e como lhe (trans)tornam as searas em campos de golfe, para exclusivo e regalado usufruto de inúteis plutocratas que devem pensar que o pão cresce das árvores e o azeite pinga dos intervalos da chuva;
o funcionário público “promovido” de repente a avatar de todos os males sistémicos deste mundo e do outro, mas cuja verdadeira origem, a dos males, reside sem discussão na chulice da corja parasitária que tão bem sabemos quem seja mas que também não deixamos, pontuais, de reeleger ad infinitum, à maneira de fedelhos estúpidos que se deitam com o papão nosso de cada dia;
e toda a demais honesta gente a quem Portugal, tirante o bom Eusébio, gosta de fazer mal porque o Bem é um luxo demasiado requintado para desperdiçar com pelintras.
Nelson Eusébio Mandela da Silva Ferreira nunca nos deixaram, porém, de mostrar que o contrário não só é possível como obrigatório.

Bem-hajam por isso, lá na éter-eternidade que os não deixa morrer, como a nós deixa.

05/01/2014

Órfãos do menino-da-trapeira desde a madrugad’agora - Leiria, manhã de domingo, 5 de Janeiro de 2014




Órfãos do menino-da-trapeira desde a madrugad’agora:
às 3h30m, morreu Eusébio, o grande senhor Eusébio
da Silva Ferreira, que deixa viúva Flora e viúvo
Portugal.
Nascera em Moçambique a 25 de Janeiro de 1942.
Chamaram-lhe depois Pantera. Negra, naturalmente.
Vi-o três vezes nas nossas vidas:
uma, em Coimbra (perdeu por 2-0 com a Académica);
outra, em Coimbra também (os encarnados deram 0-4 ao meu União);
e outra, em Lisboa, no Cemitério do Alto de São João, tinha ele lá ido fazer as honras a alguém do dirigismo futeboleiro, enquanto, quanto a mim, passeava por ali lendo lápides, visitando o derradeiro sítio de Ramalho Ortigão, sentindo coisas para escreviver.
Sinto o mesmo, com exactidão o mesmo, que senti
quando, no ocaso do ano 1999, nos morreu a divina Amália:
dois colossos pátrios, duas pessoas melhores, dois artistas
de uma época que a eles deve, em boa ho(n)ra, ser imorredoura
chamada.
(E trapeira é bola de trapo, na terra batida da antiga
Lourenço Marques.)

Canzoada Assaltante