17/05/2009

Elementos de Fortuna para uma Eudaimonia - alguns podem revelar-se acertados, nunca se sabe

Casa, Souto, 14 a 17 de Maio de 2009



Quanto se não encontra, é quanto se não soube procurar.
Ter chegado não interessa, mas ter partido.
Décadas e segundos partilham a gema ourives da atenção.
E como uma febre fria trabalhando a extensão da praia.

A beleza acorre afogueada como um bombeiro à cara.
Rajadas de vento animam a pueril vegetação domesticada.
Quintais estagiam crianças entregues a avós vegetais.
E o vento dá nas cordas de música do tempo entregue.

As pessoas formigam leveduras margem a margem.
A chuva como uma visita diagonal ao poço das casas.
A organização social marca pontos astronómicos.
E os enterros filindianam cordatos, pluviais.

Estou entre árvores municipais esta tarde.
Sinto-me bem, o ar circula, os cães dormem a sesta.
O Caso Tichborne/Orton e a Vida de Espinosa.
E a humidade das mãos na antemão da insónia.

Informações dentro da cabeça: cuidado com elas.
Voltas da brisa em torno da massa demográfica.
Uma atenção nunca desistente, um ser-dentro-todo.
Respirar é uma olimpíada: estar vivo em gás.

Estas margens anotadas a lápis pelo corpo atento.
O poder mediúnico dos animais entregues ao holocausto.
A derivação linear das águas entr’ervas.
As casadas galinaceamente sem tristezas nem som.

Alguns movimentos orquestrais descrevem.
Do rasto de tanta gente partida pelo meio, nem rasto.
Sublevações celulares comprometem os planos de aposentação.
A senhora dos jornais hipnotiza a demora.

Uriel da Costa: suicídio e razão e solidão financeira.
Grandes talhadas de pão enroupam o frio dos velhinhos.
Lisboa, um fim de tarde, sem horário nem destino.
A penetração do perfume acamando a lembrança.

Grieg sozinho numa sala apagada pensando além-música.
Famílias na Ásia devorando peixes vivos.
Iluminuras e cordéis de couro abarcando gerações impensadas.
Derivações de entrelinhas, toques papilares de azeite, sedas.

Substância: o que é por baixo está no que é no alto.
E a Natureza arte-oficia qualquer deus de serviço.
A eternidade do presente é ser-se a-tempo.
E cortinas voaçando salas vazias menos de mental olhar.

Ética de virtude, florilégio, espírito em guarda.
Vida para felicidade. Instintivo reconhecimento.
Uns pós de ignorância. Domesticação do desejo.
O que é em baixo, o que é em cima.

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Canzoada Assaltante