lingotados em toalha de papel.
Eram entradas.
Rissolando, pois, entrámos
aos fritos d'ouro com pele.
Veio a salada verdejar
o vinagrete laminado de cebola.
Houve um de nós (pessoa tola)
que se não quis alfacear.
Breve chegava o arroz
(tanto bem haja quem no-lo pôs!)
de vera galinha recheado.
Sangrara esta o seu bocado
no imo daquele cabidelado.
Mais vinagre nervosinho
espichou a travessa de louçã louça.
Comi de mais! Ai Deus te ouça
em quanto digas, cozinheirinho!
Tudo não era: mais havia
e viria que servir.
Cálice doce de malvasia
nos haveria de sorrir.
Antes dele porém sem custo
(quem gemesse houve: "Disparate!")
rojou vinho o mais vetusto
e uma sopinha de tomate.
Logo crustificado
(mesmo na morte se mexe)
o carapau frit'encebolado:
mudogritou, mas que escabeche!
Peititos tenros da tenra codorniz,
servidos sem soutien,
frescos de pura manhã,
em talo de funcho e anis.
Em tanto, a ampla costeleta
da vitela virginal
rivalizou com a punheta
esfiapada, seminal.
Grelos rijos alquebrados
de fervura cerce e sã
vinham à mesa alheados
do sumo alho de Ançã.
Canja havia para descanso
a quem quisera enxundiar:
ôlha gorda de remanso
com massa pouca pr'àssentar.
Estoirar, morrer:
ai quem se arrisca
do leitão 'inda morder
a ternuríssima isca?
Todos riscámos, pois pudera!
Melhor fora não houvera,
em tão gentil bacanal,
um cantinho posto à espera
do hepático animal...
Veio então a doçaria
(e digo isto por mim)
que à fria frutaria
fui preferindo pudim.
Um palito, ó fàxavôr!
Não, não quero melancia.
Queira trazer-me o senhor
o tal copito de malvasia.
Caramulo, com fome, manhã de 16 de Junho de 1906
4 comentários:
A malvasia, nunca!, em cima da melancia.
Não faz azia, mas fica a coisa empedernida e capaz de furar a tripa.
Mande-se acrescentar "Alimentícia" ao Pantagruel de Rabelais!
Um abraço,
Manuel Barata
abraço, Manuel!
Malvasia,sim, em cima da malvasia...
Que fome do caraças!...
A sério mesmo, gosto mas é do poema.Vou convidar-te para uma sessão numa livraria de Lisboa, pode ser?!O Manuel Barata faz a apresentação, ele que é sábio da crítica...
Um abraço do,
Zé Ribeiro
vamos nisso, Zé.
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