Dísticos - 110
Prevejo bosques de teor pretérito
Fortuitas idas ao hospício-matadouro
Esquecer & ser esquecido faz bem à saúde
À saúde de quem, nem sempre é claro
O ucraniano a par de quem pintei a obra
Esqueci dele o nome, dele a metafísica
Não esqueci o dono da obra que nos pagava
Um bardamerda de calças compradas nos ciganos
Quatro postas de peixe-vermelho
Cozeu em tachito solitário o Arnaldo
Arnaldo nasceu, como Gastão, em Faro
Mas como Gastão não deixou monumento
Proust, no derradeiro tomo da Recherche:
“os verdadeiros paraísos são os que perdemos”
Não pouco me acoima a memória:
Mas mais me acoima, menos me açaima
O amor?
Coma auto-induzido
Urdume de amados finados?
Sim, entreteço & entretenho
Escandindo, vou demudando-me
Em o que fica, pois que não fico
Cediça, esfumada, perispirítica
Em vez de alma, outra película
Especilhando sigo minha vanidade mesma
Faço-o aliás como Mariana Abade: em liberdade
Vou-me a tomar ares:
Pois que também o ar se mede ao litro.
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