28/04/2022

REGISTOS CIVIS - 110

 

Dísticos - 110




Prevejo bosques de teor pretérito
Fortuitas idas ao hospício-matadouro

Esquecer & ser esquecido faz bem à saúde
À saúde de quem, nem sempre é claro

O ucraniano a par de quem pintei a obra
Esqueci dele o nome, dele a metafísica

Não esqueci o dono da obra que nos pagava
Um bardamerda de calças compradas nos ciganos

Quatro postas de peixe-vermelho
Cozeu em tachito solitário o Arnaldo

Arnaldo nasceu, como Gastão, em Faro
Mas como Gastão não deixou monumento

Proust, no derradeiro tomo da Recherche:
“os verdadeiros paraísos são os que perdemos”

Não pouco me acoima a memória:
Mas mais me acoima, menos me açaima

O amor?
Coma auto-induzido

Urdume de amados finados?
Sim, entreteço & entretenho

Escandindo, vou demudando-me
Em o que fica, pois que não fico

Cediça, esfumada, perispirítica
Em vez de alma, outra película

Especilhando sigo minha vanidade mesma
Faço-o aliás como Mariana Abade: em liberdade

Vou-me a tomar ares:
Pois que também o ar se mede ao litro.

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Canzoada Assaltante