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Então, em noite de estupenda precipitação, vão & vêm-me ocorrendo episódios cuja factualidade não posso avençar sem que me cresça o nariz. Miríade de encruzilhadas tracejam o mapa, também ele sideral, do pensamento involuntário. Duas casas em ruínas, a talvez menos de quatro quilómetros uma da outra. Ambas tomadas pela mais hirsuta vegetação. Alguma fauna ocasionalmente as toma também – mas de que espécie(s), ignoro. Já não vive quem decerto me ensinaria muito, se não tudo, sobre isso: Valdemar Manuel Mudo Pereira, engenheiro que foi das Águas Municipais & filantropo de orfanatos. Calou-o um rasgão pericárdico quando, manso & santo, dormia com a amante de quarenta invernos, Angelina Terça Joca Xavier. Resta-me dirigir a minha ignorância em outros sentidos. Arrisco-me a um porvir mais incerto do que seja talvez injusto. Não sei – nem bem, nem mal. Talvez volte a nevar em Coimbra – como aconteceu naquela madrugada de sexta-feira, 11 de Fevereiro de 1983. Nestes mais recentes dois mil anos, mais quinzena menos coisa, muita coisa viu acontecer Coimbra. Sei cá: paixões lúgubres, investiduras manhosas, liberais pederastias, tias pós-menstruais, modernistas tresandando a originalidade-xerox, adoradores de São Miguel Torga, templários de São Manuel Alegre, gajas francamente-ambulantemente-escandalosamente boas, pobres-de-andar-ao-cartão a que ninguém passa cartão, licenciados em a arte de desrolhar garrafões de carrascão, mestrados & amestrados, doutorados sem capelo & capelães sem médico-de-família. (NB: Quando, ali supra, na primeira linha deste terceiro parágrafo, escrevi em noite de estupenda precipitação, não era nem é caso de estar referindo-me, por precipitação, a ocorrência de copiosa pluvialidade. Não, senhor. Ele até nem chove na corrente noite. Não. O ponto está nisto: precipitação é a vocação que tenho seguido em todas as decisões de vital importância nestes últimos quase 58 anos. Sim – esse tipo de decisões que, precisamente por importantes & vitais, prescreviam o antónimo de chuva, perdão, de precipitação. Mas olhai:
Nenhum médico me dá por tão-só quinze dias
Nenhum fideputa morigerador me isca anuências
Que eu não sou paspalho de aquiescências
Não sou quem poderia , é certo – mas há mais vias.
Mais vidas, não: isso não há – nem Inferno ou Céu.
Mesmo morrendo-se vestido, nasce-se sempre ao léu.
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