Como quem não rói a
corda
ou
Não é A ou B mas A & B
ou
Não é A ou B mas A & B
1 Reza um provérbio
árabe que os homens se parecem com o seu
tempo. Se o Tempo é um Rio e o Tejo é outro, com que se parecerá, pois, o
senhor ministro do Ambiente quando diz que o estado do t(r)ágico caudal é que é
o responsável pela coisa toda, ao ser caudalosamente insuficiente para “depurar” (o termo técnico foi usado por
ele) “a descarga A ou a descarga B”
(cuja responsabilidade facílima de apurar continua, até hoje, precisamente, por
apurar – ou por depurar…)?
2 A morte é a mais
democrática das leis. Não conheço outra que a supere nisto do igual-para-todos. Mais, ante Vós, me
reitero linhas escritas & caminhos pisados: 1) O tempo todo nunca é muito; 2)
Os anos acabam sempre por roer a corda. (Sabemos que a água é vida. Sabemos
que, no plural, as águas podem ser mortíferas. Desconhecíamos, parece, que elas
mesmas eram morta(i)s: cf. Festival da Lampreia de Mação.)
3 O RIBATEJO não é um seminário: é um
semanário. Não há por aqui prédicas pró-evangelizadoras do infiel, nem sermões pró-aculturação do indígena. O que há, é gente que pensa a terra sobre que é vertical
como horizonte identitário – e quem isto não souber ler, também não saberá ver,
posto que ser não sabe, quanto menos estar.
4 Coimbrão que nasci
& hei-de morrer, interessa-me muito a iniludível geminação
geo-histórico-portuguesa Coimbra-Santarém. Nem sequer é por também, aí, haver uma Académica; nem sequer é
por também, aí, haver fados &
guitarradas ao modo daqui. É mais por
termos feito corpo unitário da trinitária divisão da Península Ibérica em
Tarraconense (de que Bracara Augusta/Braga), Bética & Lusitana (de que
Scallabis, Conimbriga/Aeminium & Pax Julia/Beja). Sim, é isto. Fica dito
& feito.
5 Mansidão dos
semiloucos por aquestas esplanadas:
ao sol não-tíbio de Janeiro, envernizada a verdura pelas chuvas recentes, os
esfacelados sociais perambulam seus itinerários de formiga-sem-formigueiro. Ainda
agora (10 & picos da manhã claríssima), um deles soliloquou qualquer coisa
a ver com talvez-fátima-talvez-futebol – e em/com voz de fado o fez. Tudo
certo, portanto, debaixo do sol januário-português. Entretanto, na mesa mais a
oriente da minha, quatro mãos envelhecidas. Pertencem a Osvaldo R., aposentado
do comércio retalhista, e a Esmeralda T., que foi mulher de Jerónimo B. mas já
não é, embora oficialmente Osvaldo continue marido de Estela S., que não entra nesta história (salvé,
Carlos Drummond de Andrade!). O atravessado casal meu vizinho de mesa poderia
ser apresentado, para V.º mais luminar entendimento, como Osvaldo Descarga A
& Esmeralda Descarga B. Com V.ª licença, os sobreditos e não de todo
ausentes Jerónimo & Estela farão de descargas C & D.
6 Aquilo da manchete
da edição anterior (cf. ponto 3) – “Cabras sapadoras chegam a Alcobertas 8 anos
antes de o Governo as descobrir” – fez-me o que a vida nem sempre me faz
bem: pensar. Vi-me desejando as bravas & bravias cornúpetas alpinistas como
devoradoras não só do naturalíssimo combustível florestal de mais raso chão
como de certas práticas autárquicas do tipo deixa-arder-que-não-fui-eu-quem-soprou.
E recordei, também a propósito, a mais intelectual anedota que conheço. Esta
aqui:
7 Omnívoras, duas
cabras pastam em um monturo de lixo. Uma delas caça & abocanha o DVD do
filme E Tudo o Vento Levou. Já nos
dentes dela se estilhaça a furta-cores o redondel digital quando a outra,
curiosa, lhe demanda: “ – Então, estás a gostar?” Ao que a outra,
ruminantemente plácida, lhe redargue: “ – Hmmm, gostei mais do livro…”
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