Fora, Pedro!
Bem-vindo, Tomé!
Ando
há tempos para V. dar conta de dois livros intimamente ligados a Santarém cuja
leitura fiz com zelo, lápis, agrado e proveito. Ainda não vai ser desta. E
ainda não vai ser desta porque a chaga incendiária – que nos mata tanta gente,
nos destrói tantas habitações, nos arrasa tantas matas e nos pulveriza tantas empresas
– é a recorrente e implacável temática de cada dia, semana a semana, mês a mês.
Pus-me
a odiar São Pedro, coitado do barbudo das chaves-do-Céu.
Na
minha mocidade (e na Vossa), as estações eram quatro: e começavam à hora
marcada do dia certo. A Primavera existia, vinha no bico das andorinhas, o
arvoredo rejubilava, a temperatura era suave & adequada. O Verão
amarelejava de grandes fenos, extensos trigais, fundia o azul do céu no azul do
mar, os rios ainda não eram fossas pecuárias. O Outono? Era todo Vivaldi:
revoadas de folhas revoluteando como arcadas de violino, havia o prazer das
luvas de lã, as botas de borracha pelas ruas de terra sem macadame. O Inverno
era frio conforme a competente e obrigativa disposição legal desse tal São
Pedro que, naqueles bons tempos, trabalhava bem & devagar. Tudo isto deu o
berro. Tudo isto ardeu.
A
estiagem prolonga-se indecentemente há meses de mais. Em plena segunda metade
de Outubro, a brutidade solar, sem ozono que superiormente a estorve,
esturrica-nos a nossa própria sombra, que, pelo chão, feita carvão, se
esbraseia mais do que nós até. É uma coisa intolerável, este calor sem freio
nem calendário. É um túnel de fogo sem água ao fundo. E o imbecil do Trump a
rasgar acordos pró-climáticos. E o aqueci/esqueci/mento global. E os glaciares
a virem por aí a baixo feitos sopa. Porra, porra, meus senhores.
Como
poderia eu, pois, cronicar-vos a mote das minhas leituras pró-santarenas?
Livralhada agora, agora que por todo o lado só se lê, vê & ouve que “Olha, subiu o número de mortos; olha, mais
uns tantos desaparecidos; olha, os feridos não param de aumentar…”? Ná,
leiturices para ninguém.
Eu
exijo que chova como deve ser. Estamos em Outubro, catano! Quero o frio que nos
é devido em Novembro para podermos matar & escorrer com limpeza e sem
mosquedo calorífero & putrefactor o belo porco enquanto roemos a bela
castanha assada – ou cozida com funcho.
E
olha, ó Pedro tão pouco São, vê se te reformas e dás lugar a outro. Olha, dá-o a
São Tomé, por exemplo, que só haveria de crer
numa política territorial anti-fogos quando houvesse alguma para ver.
Sem comentários:
Enviar um comentário