É de um gajo ficar
plasmado
Fiquei
por estes dias a saber que “plasma” significa “história ficcional”. Mentira,
portanto. Nem mais nem menos. É coisa dos Gregos, claro. Quando esses tão
sábios Antigos se referiam a coisa “moldada”, “modelada”, “trabalhada”, zunga!,
chamavam-lhe plasma.
Recentemente
também, e ainda, cacei por aí um jocoso trocadilho que alguém, em muito boa
hora, inventou: “jornalixo”. Achei um piadão ao neologismo, até por ele ser de
sentido tão franco, tão cabal – e tão acertado.
De
modo que “plasma” e “jornalixo” são já & doravante justos sinónimos para
mim.
O
espectáculo da comunicação anti-social é de facto miserável. E a miséria começa
pelo idioma. A Língua Portuguesa é uma pérola atirada a (quase) dez milhões de
porcos. (NB: Os leitores de O
RIBATEJO são o “quase” entreparenteticamente
salvaguardado.) Disto, ninguém me tira. As sevícias e o desleixo a que é
sujeita são insuportáveis. (Não, não vou dar exemplos. A cama é curta e a manta
da crónica é estreita.)
Depois,
dá-se a perfeita incapacidade de jornais, rádios, televisões e internetices quanto
a distinguir o essencial, isso tão fininho que separa o interesse-público do
interesse-do-público. É a rebaldaria
total: assuntos mesquinhos, soezes ângulos de abordagem e perspectiva, investigação
nula, partidarização subjectiva total, apresentação sabuja. Chego a ter nojo
físico, ao nível do eczema, de tais subprodutos do plasma à portuguesa.
O
jornalixo é fortíssimo. O jornalixo é tão mais forte quão mais
fraquinho é o público. E versas e vices. São já muitos os anos passados sobre o
dia em que atirei para remo(r)ta gaveta a minha carteira profissional. Em uso
dela, é certo, conheci, convivi e interagi com alguma gente boa, isso é
verdade. Tanto do lado de dentro (as redacções), como do lado de fora (o mundo,
enfim). Mas essa dimensão era a da excepção. A regra era a ordinarice, o
analfabetismo funcional, a desonestidade, o lambe-botismo, a cusquice, a cunha,
aquilo de uma-mão-lavar-a-outra
resultando em duas patas sujas. Fartei-me.
Ainda
bem que me fartei. Vivo hoje um desemprego que só não é paradisíaco por lhe
faltarem o fim, o meio e o princípio do mês quanto a guito. Tirando isso, tudo bem. Maravilha, até.
Se
tenho saudades de quando o dia-a-dia se media por tantos caracteres incluindo espaços, com ou sem boneco? Não tenho. Perseguir telefonicamente o senhor vereador para
uma declaraçãozita sobre a rotunda da fábrica dos fósforos – não me seduz.
Caçar o senhor presidente da Junta numa almoçarada de caçadores, pescadores &
outros mentirosos como ele – não me arrebata. Perder a manhã de domingo na
décima inauguração do mesmo lar de velhinhos terminais a um mês das autárquicas
– não me põe na certeza do Pulitzer.
Que fazer, pois, em alternativa?
Nadinha.
A não ser que.
A
não ser que, da névoa, se recorte com nitidez algo que valha a pena estudar.
Digo: algo ou alguém. Algo que nada tenha a ver com rebanhos santuário-centenários
mas sim com força real, interesse útil, gesta pró-solidária. Ou alguém de vida
exemplar cuja cara lavada reitere as virtudes da água, do sabão e da ética, ao
invés da porcaria de gente que sobrepovoa as valetas e os montados. A não ser
que isto, nada daquilo.
Sim,
sim: o plasma é lixado. Aqui, posso
dar um exemplo: a um Amigo meu, roubaram-lhe o que tinha comprado por uma
catrefada de notas. Fartei-me de o avisar, lembro-me tão bem disso. Eu assim
para ele: “Ó Delfim-Zé, tu não compres
essa porra, pá, tu não compres essa porra porque essa porra, uma vez ligada à
ficha, só dá jornalixo, pá. E mais: se quiseres ver o teu Benfica, tens de ir à
spórtévé do Café gastar em bejecas e amendoins o leite da menina. E tu olha-me
que coiso, ainda te roubam essa porra e depois já cá não me tens a mim para
escarrapachar isso no jornal.” E assim foi, está ali ele que não me deixa
mentir.
Mas
agora, uma notícia boa: para a semana, prometo-vos uma crónica ainda piorzinha
do que esta. E, por pirraça, em 3985 caracteres-incluindo-espaços e a fazer-se
ao boneco como esta.
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