31/01/2017

IMITAÇÃO DE INÊS H. POR RUI B. - Rosário Breve nº 490 - in O RIBATEJO de 26 de Janeiro de 2017 - www.oribatejo.pt



Imitação de Inês H. por Rui B.



Há uma dúzia de anos entregues à bicharada, vem-nos a calhar um zootécnico. Refiro-me, claro, ao engenheiro Rui Barreiro, que, qual Lázaro, ressuscita do purgatório ribatagano e se propõe reconquistar em 2017 o que em 2005 perdeu: a presidência da Câmara de Santarém. Vem um bocadito tarde – mas vem a tempo, por não haver mais tempo a perder. Se vencer, oxalá faça jus ao nome. Neste sentido: Barreiro resolve barreiras. É trocadilho fácil – mas justo.
Como não voto cá, é libérrimo que me sinto para bitaitar alguns emolumentos à cena (triste) da realidade político-social deste futuro interdito chamado Santarém (Cidade & Concelho). Fá-lo-ei socraticamente: destruindo por ironia, reconstruindo por maiêutica.
Três palavras-chave parecem ser as suas, a saber: “Confiança, Esperança e Coragem”. Deixe-se disso, senhor engenheiro. Temos tido, por excesso que não por defeito, muito abuso de confiança, de desesperança razões muitas – e quanto a covardia (vá, a palavra é forte, troquemo-la por pusilanimidade), e quanto a pusilanimidade, o senhor sabe, o senhor bem saberá. Não é, pois, de palavras-chave nem de intenções-fechadura que precisamos todos – mas sim de actos-abertura, de paredes que mudem de cor quando se lhes der por cima uma chapada de tinta.
Até 25 de Abril próximo (boa data), diz o candidato que apresentará os nomes a si & do seu projecto adjacentes & cúmplices. Oxalá tais nomes sejam, mais do que próprios, apropriados. Não há-de ser difícil: isto aqui é joio, aquilo ali é trigo. Joeire o que for preciso até que espigue o melhor. Não vá pelo menos mau. Vá pelo(s) melhor(es).
É confirmação do senhor engenheiro que fervilham discretamente “conversações com outras forças públicas do Concelho para tentar encontrar entendimentos que permitam uma solução pluripartidária estável”. Bem. Muito bem. Não se importe que o já velho & relho apodo de Geringonça venha a ser-lhe ladrado pelos que temem o passar da caravana. Fale pouco e ouça muito as pessoas de bem, que Santarém as tem também. Vá beber um copo ao Quinzena.
Imperativa como imperiosa lhe seja a noção de a política poder sempre, mas não dever jamais, esquecer ser de/com/para pessoas que trata. Estes doze anos têm sido um deserto maninho, estéril, inculto: e torpe e ignóbil – vil até demasiadas vezes & soez não poucas. Barbudos embora, estes rapazes que estão não passam de imberbes a brincar às gilettes como os mais crescidos. Para eles, progresso é um hipermercado por cada cem habitantes. E se o não é, parece muito sê-lo. Olhe o senhor.
Olhe o senhor aquilo da EN 114, aquilo da balbúrdia viária ao pé da estação: que interminável tragifarsa, verdade? Verdade. O prolongadíssimo encerramento sem remédio à vista daquela via crucial (via crucis, precisamente) é, em si mesmo, o retrato perfeito do corrente executivo municipal. (Mas diga-o o senhor à sua maneira, que eu tenho chovido no molhado e a mão também já me dói um bocadito.)
Outra coisa não propriamente menor: o Tejo. Queira escutar os activistas apartidários que a ele velam & por ele pugnam. Seja incisivo nessa escuta. Insista na revisão equilibrada & pragmática do PDM-de-Santa-Engrácia a cuja procrastinação sine die estes ineptos inaptos nos têm condenado, a nós sem culpa formada mas com trânsito em julgado na (não-)prática. Cá p’ra mim, o lixo real das ruas começa a ser varrido com uma vassourada no lixo metafórico disto-d’agora.
Engenheiro: chateie Lisboa, senhor! É no chatear Lisboa que a coisa se dá. Chateie Lisboa! Vá lá fazer com que lhe passem cartão, ao contrário deste, que ainda piou vaguíssima & inconcretizadíssima ameaça de entregar o cartão. Chateie Lisboa. Incomode. Ralhe salivosamente com a secretária do ministro. Fume muito na antecâmara do ministério. Leve merenda para o Terreiro do Paço. Leve campinos, leve um rancho ou quatro, diga que se vai matar em holocausto público, ameace-os com o terror da continuação do Ricardo. Ou então assim: ande muito, marche muito – olhe, marche depressa & bem à imagem & semelhança da valentíssima Inês Henriques, a gloriosa riomaiorense que, a pé, faz mais depressa 50 km do que eu de bicicleta, eu com 35 anos de tabaco no pulmão ainda em vigor, no hálito, na roupa e na vocação de cinza-um-dia como toda a gente. (Já agora, senhor, dê-me-nos lume.)
A sério, muito a sério, senhor engenheiro: imite a Inês. Desta vez, o senhor não terá como concorrente uma medíocre criatura de televisiva génese – mas sim alguém cada vez mais ninguém neste frei-luís-de-sousa mesquinho de que Santarém não tem de continuar sendo palco.
Confiança, senhor. Esperança, engenheiro. Coragem, Rui. 

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Canzoada Assaltante