Lontra-metragem (I & II)
I
Temos aqui
na parvónia um amigo que, há anos não estreitos já, passa por uma fase nada boa
da e na vida: é macho, está sozinho e quanto mais anseia por fêmea, mais fede
ao peixe estragado da falta de predação. Eu & o resto da pandilha passámos
a tratá-lo por Laçubra, que é mimoso
acrónimo para Lontra do Açude de Abrantes.
É cruelzito, sabemo-lo bem – e por isso mesmo nunca mais lhe chamaremos Zé-Tó.
Ele já teve
mulher, de quem se deslontrou por causa de ela ter passado de foca a
leão-marinho ao cabo de parir cinco crias muito feias, muito cegas e todas
desdentadas que só queriam era mamar a-vida-toda-e-mais-um-dia como as
parcerias público-privadas. O ele não arranjar rocha nova em que se ponha ao
sol(o), deve-se também ao facto de ele se banhar em fossas que, de tão turvas
& emporcalhadas, são mais cépticas do que sépticas. Cada transição
Inverno-Primavera, a coisa piora: o cio fá-lo chorar onanismos de leite
derramado em vão. Nessas alturas de mor pranto, nós-os-amigalhaços nunca lhe
falhamos, mimando-o & ninando-o com esta lengalenga: O Laçubra não tem quem cubra! O Laçubra não tem quem cubra! E
depois fazemos como na creche: Na-na-na-nãn-nãn-na!-Na-na-na-nãn-nãn-na!
E no fim rimo-nos muito dele sem ser p’ra ele e vamos beber copos para nos
rirmos ainda mais e prontes.
Na mocidade,
o ainda-Zé-Tó era muito bom em natação. Em águas então limpas, era gajo para
nadar 4-minutos-4 seguidinhos antes de vir à tona. Agora, à tona é coisa a que ele não vai, por mais
que se esganice em excruciantes uivos à lua privada das lontras. Hoje em dia, o
Laçubra amostra ao mundo aquele ar de afogado roído pelos crustáceos, em
vez de ser ao contrário. Seria de meter dó, caso percebêssemos alguma coisa de
música.
II
Com isto
tudo do Laçubra, acabei perdendo
espaço para o arremedo de crónica que aqui me trazia. Era artigalhada sobre as
primatas, perdão, primárias para as presidenciais dUSAmericanos de Novembro
próximo. Aquele circo que opõe burros a burros e elefantes a burros. E a
lontras. Sim – e a lontras.
É que, em amaricano, Zé-Tó diz-se Donald. Mas a trump é a mesma. Entre gente que se dá
ao luxo & ao lixo de imitar em cegueira as crias do Laçubra ao eleger figuras como o Nixon, o Reagan e os dois Bush, a
hílare Clinton ainda é capaz de não ter de que se rir – como nós temos do
Zé-Tó, cujo traseiro apimentado é nosso refresco.
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