24/12/2015

Rosário Breve n.º 437 - in O RIBATEJO de 28 de Dezembro de 2015

Queres assim ou queres que embrulhe, Rical-do?

0. Do velho mas não esquecido nem extinto Aristóteles (in Política): “(…) existe por natureza a cidade antes da casa e de cada um de nós, pois o todo é necessariamente anterior à parte.”
1. O sumo da citação é bebível com proveito por tudo quanto for sítio gregário de humana habitação colectiva – e Santarém não tem por que ser excepção. O caso da ruína (mais uma) de um telhado em plena Rua 1.º de Dezembro, seguida, meras sete horas depois, pelo enfim-deferimento do licenciamento de obra de recuperação do mesmo edifício (que há um ano era pe[r]dido & [des]achado nas catacumbas insondáveis para onde esta Câmara ostraciza os documentos de mor interesse público), esse caso seria, enfim, de gozão gáudio motivo, se não fosse, como enfim & de facto é, tão desbragadamente demonstrador da militante & impenitente incúria por parte desta Vereação e do todo deste Executivo. Até porque cada 1.º de Dezembro se comemora (ou comemorava), precisamente, a… restauração. (Assim em caixa-baixa e em itálico para o trocadilho funcionar à maneirex, que é como quem diz na-mouche-au-point.)
Esta Câmara(-lenta) acumula medalhas-de-cortiça que só a cobririam de opróbrio na eventualidade improvável e nunca provada de, ela-Câmara, ter duas coisas: cara e vergonha para agarrar à dita. Não tem. É ver outro gritante caso: o da cratera da/na estrada das Manteigas, que há um lustre está por reparar. Cinco anos para tapar um buraco? Já nem é descuido – é dolosa (e dolorosa) incompetência. Será preciso ir laurear-a-pevide à Coreia do Sul com a pandilha dos cônjuges a pretexto de ir buscar um bocado de brita e uns baldes de alcatrão? É obtusidade a mais, para falar com a franqueza mais escancarada. Aquele buraco é, afinal, espelho da maltosa (eu não disse maldosa, mas…) mandante na Cidade e no Concelho, para mal de concelho e de cidade.
À cratera-das-Manteigas só logro equivalência & cotejo no encerramento da Escola do Salvador, ré culpada da própria qualidade pedagógica e presa condenada do economicismo cego extensivo, pelo desditado País nosso afora, a centros de saúde, tribunais e coisas tipo Rical à la Pires de Lima. Os números devem servir as pessoas, não fazê-las penar. O parentesco geopedagógico da Educação (a educação a sério) para com a Pessoa-Educanda também passa, nos seus decisivos & cruciais anos primeiros, pela proximidade da Escola em relação à porta de casa. E só se é de todo de algures quando algures em parte nos pertence. Desta maneira, todavia, a parte pelo todo é que me parte todo.
Aristóteles não discordaria, quero crer.
2. Por estes mesmos tristes dias-da-ira do descalabro do sistema bancário em que o ínvio & madeirense BANIF emula o famigerado BES continental, o também madeirense AJ Jardim é medalhado em Belém pelo ramsésico Cavaco – mais cortiça, portanto. As coincidências são as migalhas do pão que o Diabo amassa à conta da farinha de Deus.
Aristóteles decerto lhe preferiria broa.
3. No porvir próximo, temos as Presidenciais. Votarei, claro está – quanto mais não seja, para honrar a memória dos muitos que combateram (e derrotaram!) a ditadura monstro-salazarenga; quanto menos não fosse, para a eles render grato preito pelo poder de que me investiram no sentido de, mercê de uma simples cruzinha na quadrícula que achar mais parecida comigo mesmo, dizer o que quero, o que não quero, de onde venho & para onde (não) vou. Mas sempre V. digo o mesmo em mais terrena dicção: no mico-de-circo, não voto; na do terror-das-cabeleireiras, também não; no Eusébio, já não posso; no Ricardo Salgado, só se ele vestir o uniforme-45.
Aristóteles? O Aristóteles que vote no Sócrates, se o Platão não vier atrapalhar.
4. A célebre tirada de Porfirio Díaz (que mais anos presidiu à república do seu país até do que o truculento Alberto João à das bananas adjacentes), pode, afinal, não ser dele. Há quem diga que foi criação de um jornalista chamado Nemesio García Naranjo, director de La Tribuna. Não sei. Sei a tirada: “Pobre de Mexico – tan lejos de Dios y tan cerca de Estados Unidos.”
Grande frase, seja ela de quem for. Apetece-me nacionalizá-la. Ou antes: escalabitanizá-la. Facílimo. Fica assim: “Pobre Santarém – tão longe de Aristóteles e tão perto da Rical-do Gonçalves.”
Ora toma lá desta e embrulha-a tu.




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Canzoada Assaltante