Queres assim ou queres que embrulhe, Rical-do?
0. Do velho mas não esquecido nem
extinto Aristóteles (in Política): “(…) existe por natureza a cidade antes da casa e de cada um de nós, pois o todo é
necessariamente anterior à parte.”
1.
O
sumo da citação é bebível com proveito por tudo quanto for sítio gregário de
humana habitação colectiva – e Santarém não tem por que ser excepção. O caso da
ruína (mais uma) de um telhado em plena Rua 1.º de Dezembro, seguida, meras
sete horas depois, pelo enfim-deferimento do licenciamento de obra de
recuperação do mesmo edifício (que há um ano era pe[r]dido & [des]achado nas catacumbas insondáveis para onde esta
Câmara ostraciza os documentos de mor interesse público), esse caso seria,
enfim, de gozão gáudio motivo, se não fosse, como enfim & de facto é, tão
desbragadamente demonstrador da militante & impenitente incúria por parte desta Vereação e do todo deste Executivo. Até porque cada
1.º de Dezembro se comemora (ou comemorava), precisamente, a… restauração. (Assim em caixa-baixa e em
itálico para o trocadilho funcionar à
maneirex, que é como quem diz na-mouche-au-point.)
Esta
Câmara(-lenta) acumula medalhas-de-cortiça que só a cobririam de opróbrio na
eventualidade improvável e nunca provada de, ela-Câmara, ter duas coisas: cara
e vergonha para agarrar à dita. Não tem. É ver outro gritante caso: o da cratera da/na estrada das Manteigas, que
há um lustre está por reparar. Cinco anos para tapar um buraco? Já nem é
descuido – é dolosa (e dolorosa) incompetência. Será preciso ir
laurear-a-pevide à Coreia do Sul com a pandilha dos cônjuges a pretexto de ir
buscar um bocado de brita e uns baldes de alcatrão? É obtusidade a mais, para
falar com a franqueza mais escancarada. Aquele buraco é, afinal, espelho da
maltosa (eu não disse maldosa, mas…) mandante
na Cidade e no Concelho, para mal de concelho e de cidade.
À
cratera-das-Manteigas só logro equivalência & cotejo no encerramento da
Escola do Salvador, ré culpada da própria qualidade pedagógica e presa
condenada do economicismo cego extensivo, pelo desditado País nosso afora, a
centros de saúde, tribunais e coisas tipo Rical à la Pires de Lima. Os números devem servir as pessoas, não
fazê-las penar. O parentesco geopedagógico da Educação (a educação a sério)
para com a Pessoa-Educanda também passa, nos seus decisivos & cruciais anos
primeiros, pela proximidade da Escola em relação à porta de casa. E só se é de todo de algures quando algures em parte nos pertence. Desta
maneira, todavia, a parte pelo todo é que me parte todo.
Aristóteles
não discordaria, quero crer.
2.
Por
estes mesmos tristes dias-da-ira do descalabro do sistema bancário em que o
ínvio & madeirense BANIF emula o famigerado BES continental, o também
madeirense AJ Jardim é medalhado em Belém pelo ramsésico Cavaco – mais cortiça, portanto. As coincidências são as
migalhas do pão que o Diabo amassa à conta da farinha de Deus.
Aristóteles decerto lhe
preferiria broa.
3.
No
porvir próximo, temos as Presidenciais. Votarei, claro está – quanto mais não
seja, para honrar a memória dos muitos que combateram (e derrotaram!) a
ditadura monstro-salazarenga; quanto menos não fosse, para a eles render grato
preito pelo poder de que me investiram no sentido de, mercê de uma simples
cruzinha na quadrícula que achar mais parecida comigo mesmo, dizer o que quero,
o que não quero, de onde venho & para onde (não) vou. Mas sempre V. digo o
mesmo em mais terrena dicção: no mico-de-circo, não voto; na do
terror-das-cabeleireiras, também não; no Eusébio, já não posso; no Ricardo
Salgado, só se ele vestir o uniforme-45.
Aristóteles? O Aristóteles que
vote no Sócrates, se o Platão não vier atrapalhar.
4.
A
célebre tirada de Porfirio Díaz (que mais anos presidiu à república do seu país
até do que o truculento Alberto João à das bananas adjacentes), pode, afinal,
não ser dele. Há quem diga que foi criação de um jornalista chamado Nemesio
García Naranjo, director de La Tribuna.
Não sei. Sei a tirada: “Pobre de Mexico –
tan lejos de Dios y tan cerca de Estados Unidos.”
Grande frase, seja ela de quem
for. Apetece-me nacionalizá-la. Ou antes: escalabitanizá-la. Facílimo. Fica
assim: “Pobre Santarém – tão longe de
Aristóteles e tão perto da Rical-do Gonçalves.”
Ora toma lá desta e embrulha-a
tu.
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