São Luís, orago de pontes de fantasia
ou
O coronel tem quem lhe escreva
Preciso
muito de que o meu Leitor tenha presente a edição passada deste Jornal para que
esta crónica (a começar pelo título) faça, ou tenha, algum sentido.
Falo das
páginas 12 e 13 de 29 de Outubro último.
Página 12
integral. Canto superior direito da ímpar seguinte. Por favor.
Na 12, mais
ou (pouco) menos isto: tropa alemã atira ponte entre o Arripiado da Chamusca e
os castrenses Tancos da Barquinha. Coisa provisória, ilusão de barcaças. É que
a de Constância (a da vida real, a dos civis) continua impraticável. Brincadeira
de militares: coisas da OTAN que fingem que os puros (ou arianos) Alemães se
deixam comandar pelos híbridos (ou anglo-franco mestiços) Canadianos do senhor
coronel St.-Louis, supremo manda-chuva da paródia.
Magotes
populares correm e concorrem a pasmar: “A ponte é uma passagem / Para a outra
margem” – lição dos nortenhos Jàfumega
de melhores do que este ano(s). Os calhambeques militares passaram todos. Os
homens soltos, também. Muitas toneladas caras. Nada a ver com os irrelevantes
civis que precisam de trabalhar na banda d’além fora destes carnavais
pseudobélicos.
Entretanto,
a páginas 13, o meu/nosso/vosso Jornal assinala que demandar e atravessar a
abrantina Ponte do Rossio pode custar 45 minutos de vida, no mínimo, aos
deserdados e malfadados auto-utentes da dita travessia. A coisa é para, mole,
durar. O Tejo fora de Lisboa conta muito pouco. Os Ribataganos, idem zero. A
manutenção daquela estrutura rodoviária ora à mui portuguesa Santa Engrácia,
não ao germanizado canadiano São, ou Saint, Luís, ou Louis.
Digo eu
agora, uma vez fechadas sobre si mesmas as pretéritas páginas: tragifarsa, tudo
isto. País (o nosso) de micos de circo que, ante o foguetório barulhento das
luzes, privilegiam o irreal de dois mil maçaricos
de pólvora-seca cruzando num ápice, por meia meia-dúzia de semanas, as mesmas
águas que o pessoal trabalhador de cá não atravessa sem ser por esmola.
Porquê?
Porque a gente
quer. Ou deixa. Porque a gente deixa.
Extinta a
palhaçada, sobram os inexoráveis cursos de água e as imperdoáveis travessias
adiadas.
Cristo não
volta e o senhor coronel St. Louis vai-se embora.
“Like a bridge over troubled water” – não é Jàfumega, é Simon & Garfunkel.
Pode bem ser
que ainda, uns e/ou os outros, passem nos receptores de rádio dos veículos
parados ante as pontes quietas do nosso afinal sossego, a avaliar pelo mais
recente plebiscito pró-legislativo.
Valha,
enfim, a moral triste: a povo manso, rio bravo.
E Alemães
adentro.
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