Allein zu Haus
Duplo
azar de Fábio Coentrão: lesionado nos brasis da bola, aconteceu-lhe, no mesmo
dia em que regressou a Portugal, acabar descobrindo que não estávamos cá –
tínhamos “regressado aos mercados”. O brioso ala-esquerda do Real Madrid (que
está para a carta de condução como o Relvas está para a licenciatura académica)
deu por si sozinho na aerogare da Portela. Nem taxistas havia cá fora. Nem
sombra de bilhetes do Tesouro para desbaratar nos chineses. Apreensivo, rumou a
Espanha. A pé, não fosse por aí restar alguma GNR-BT.
Entretanto,
no íntimo público daquele Partido a que por piada chamam “Socialista”, o
respectivo Directório analisa cada milímetro táctico-estratégico de Paulo
Bento. É isto que eles querem apurar: se (também) o seleccionador nacional
percebe de descalabros com os Alemães, não irá ele precaver-se com o inócuo
Hélder Seguro Postiga em vez de
arriscar com o já-se-viu-que-se-aleija-logo Hugo Costa Almeida?
E
agora aquilo do Pepe. O Pepe: esse grande lusitanista. O Pepe: esse nosso continente-e-ilhas-do-minho-até-timor.
O Pepe: esse perfeito marinho-e-pinto de calções e chuteiras fluorescentes tão
perito em usar a cabeça menos para pensar. O Pepe, enfim, somos todos nós –
menos dez milhões.
Agora
a sério para gente séria, só me ocorre dizer que tanta euforia falsa só podia
resultar em tristonhice macambúzia de cachecol rubro-virente ao cachaço. Nem no
tempo do Morcego Eunuco de Santa Comba Dão o futebóleo oleava tanta alienação de massas. Tanto desempregado
comovido de patriotismo até à raiz cardíaca das lágrimas. Tanto
reforma(fornica)do a interromper o Alzheimer para se lembrar do Varela ao lado
do Éder, em vez da teimosia no Postiga ao lado do ninguém de si mesmo. Tanto
barão do PS a dizer que então ao menos o Neto no lugar do Pepe, o Ricardo não
porque também é Costa.
Como
as areias mais finas pelos interstícios menos calafetáveis, o circo popularucho
do “jornalismo” tudo invade. A RTP não dispensa o desdentado da rulote de
bifanas, que pensa ele do coiso, o Meireles. A SIC rapta a velhinha que ia ali
ao centro de saúde que já não há para apurar se, sim ou não, não terem levado o
Quaresma fez mal à Páscoa. A TVI grunhe aleivosias caralheiras contra o árbitro
que tão ruipatriciamente nos calhou. A CMTV, idem. A BolaTV, aspas.
Será
ingenuidade minha, mas acho mesmo que, a seguir a cada jogo da Selecção (dita)
Nacional, as televisões, as rádios e os jornais deveriam correr as esplanadas e
fazer perguntas tipo:
– Acha que foi
justa a derrota dos direitos laborais?
– Contava com esta goleada no IVA?
– Concorda que com o Eduardo ou o Beto o IRS ainda estaria pior?
– Acha que, por já ter 29 anos, o CR7 deveria ficar sem metade do rendimento?
– Acha que, por já ter 29 anos, o CR7 deveria ficar sem metade do rendimento?
– Vossemecê não
acha triste que andemos todos por conta do “empresário” Jorge Mendes?
– Está à espera que
o “regresso aos mercados” nos faça voltar em grande contra os Estados Unidos?
– Não era para si
evidente que no Alemanha-Portugal a Merkel só lá foi para ver como se portavam
os ’taditos dos coelhos?
Eu
sabia que ia ser assim. Toda a gente sabia. Mas tanta “reportagem”, tanto “popular”,
tanta merda sobre a bola – enjoa. Um jogo tem 90 minutos, 120 às vezes. O antes
e o depois disso – são palha para burros. Espero que a Selecção volte depressa
para casa. Quero a crise de volta. Quero a indignação de volta. Que é como quem
diz: quero que Portugal volte a Portugal.
Os Alemães que joguem com os “mercados”. Sozinhos, como o Coentrão lá na Portela.
Os Alemães que joguem com os “mercados”. Sozinhos, como o Coentrão lá na Portela.
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