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Ib.
Começas criança mas
ninguém te diz onde é o cinema.
Acabas percebendo a lata
das bolachas, o ter de não estar vazia.
Percebes que a canção é
mais do que um poema.
E chega a noite de ontem
ao amanhã do dia.
Como cucos, os velhos são
relojoeiros.
E nós, ex-crianças,
disparamos morteiros.
Começa-se sempre pela
louça, água-corrente nem sempre.
Mas há um horror ao lixo,
que a limpeza é diferente.
É o mesmo que em pobreza a
gente ser gente.
E as vagens-verduras
sustentam a Mãe que morrer vai,
sei lá eu se é pecado ser
nado ou nada ou d’onde-meu-Pai.
Dez de Maio,
duplo-mil-&-treze, entretanto sai
o Sol inclemente, que com
a Lua troca, indif’rença p’la gente.
Pela Arregaça antiga, que
de Coimbra orla uma sandes paga,
a Matilde de há pouco (a
louca dos meus versos) s’apaga,
de coxas varizmarmóreas,
ante um viúvo desejoso,
uma ejaculação
d’aguadilha, cuja emissão é o gozo
de um homem que não vou
ser.
Amanhã, a manhã há-de ser
de amanhecer.
O meu mais velho cruza
morenamente a infância terminal.
Mandaram-no longe matar
pretos em nome de Cristo-Portugal.
Tenho pena da Matilde,
Gracita, aproveitam-se dela.
Já fez 60 anos, mas é
branca de lírio. A beijar, é amarela.
Acontece exactament’agora.
Escrevo bem. Acho mal.
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