03/03/2013

Lorde Gin (IV) - 21 de Janeiro de 2013 - in PRIMEIRA RAÇA






Era pelo vento de papel-de-seda, era no Cabeço do Picôto.
Ser menino acontecia bandeir’airosamente ao alto.
A terra tinha, parecia, instâncias do mesmo mar
que além-Bolão quase fingia ser já e ali estar.
Airosa mente, ainda não fumada ou bebida então, a minha
me subia à mundial cercania do ouro mais duradouro.
Significa: era feliz como um pássaro sem guita ou linha
e não conhecia deveras gente que deveras fosse aflita ou sozinha.
Era (n)o começo de tudo: porque o mundo só se inicia
quando uma pessoa se faz dia. Não havia reverso,
verso sim só havia (e pode ser este dele o recado).
A vida era toda de frente, rosto toda: e o rosto era lavado.

O comércio era então de coisas não encaixadas.
O que era produto, mostrava-se nu ao desejo.
A Senhora Eduarda e o Senhor Carlos (hoje dizem-se jeovás)
enchiam de carvão (tal como na Casa Pantaleão) quem lhes levasse o cabaz.
Das fábricas, ao meio-dia, os obreiros saíam ao comer.
Pontuais como as marés, era vê-los sempre reter
o passo certo, a força da hora, o Tempo feito andante cavaleiro.
Nada que não pudesse ser aparecia de ante: tudo era fronteiro.
Que é feito? Que e quem se desfez já?
Nesse tempo o não sei, perguntas dessas não há
nem as faz quem de siso, que estar triste não é preciso.
(Mas pensá-lo e perguntá-lo agora é duro aviso.)

– Voltarei entretanto a este assunto,
que o tempo agora não é muito. –

2 comentários:

Malena disse...

E, de repente, veio-me à memória o som estridente dos toques da fábrica a chamar para a jornada ou a terminá-la!

Nem digo como é belo, o texto, porque me repito! :)

Daniel Abrunheiro disse...

Tão gentil, Malena.

Canzoada Assaltante