Era pelo vento de
papel-de-seda, era no Cabeço do Picôto.
Ser menino acontecia
bandeir’airosamente ao alto.
A terra tinha, parecia,
instâncias do mesmo mar
que além-Bolão quase
fingia ser já e ali estar.
Airosa mente, ainda não fumada
ou bebida então, a minha
me subia à mundial
cercania do ouro mais duradouro.
Significa: era feliz como
um pássaro sem guita ou linha
e não conhecia deveras
gente que deveras fosse aflita ou sozinha.
Era (n)o começo de tudo:
porque o mundo só se inicia
quando uma pessoa se faz
dia. Não havia reverso,
verso sim só havia (e pode
ser este dele o recado).
A vida era toda de frente,
rosto toda: e o rosto era lavado.
O comércio era então de
coisas não encaixadas.
O que era produto,
mostrava-se nu ao desejo.
A Senhora Eduarda e o
Senhor Carlos (hoje dizem-se jeovás)
enchiam de carvão (tal
como na Casa Pantaleão) quem lhes levasse o cabaz.
Das fábricas, ao meio-dia,
os obreiros saíam ao comer.
Pontuais como as marés,
era vê-los sempre reter
o passo certo, a força da
hora, o Tempo feito andante cavaleiro.
Nada que não pudesse ser
aparecia de ante: tudo era fronteiro.
Que é feito? Que e quem se
desfez já?
Nesse tempo o não sei,
perguntas dessas não há
nem as faz quem de siso,
que estar triste não é preciso.
(Mas pensá-lo e perguntá-lo
agora é duro aviso.)
– Voltarei entretanto a
este assunto,
que o tempo agora não é muito. –
2 comentários:
E, de repente, veio-me à memória o som estridente dos toques da fábrica a chamar para a jornada ou a terminá-la!
Nem digo como é belo, o texto, porque me repito! :)
Tão gentil, Malena.
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