08/11/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 112 - fragmento 1

112. APENAS-DIA-MAIS-UM-DIA



Coimbra, sexta-feira, 5 de Novembro de 2010


(...)

Noite não muito bem dormida. Acordei cedíssimo, presa de uma vaga angústia. Tentei reconciliar-me com o sono por via de imaginar o velho tema do homem dormindo ao ar livre de uma floresta través da que um rio. Mas não foi fácil. Clarões da outra vida (esta do apenas-dia-mais-um-dia) rompiam em chamas pela consciência a um terço de gás. Depois, porém, o Sol nasceu – e eu renasci também, algo pisado pelo desamparo, mas, enfim, vivo e ambulante.

*


Conheço longamente os rostos ímpares
que financiam a sombra dos corredores,
os horários das pensões, as cartas perdidas,
as flores esmagadas pela passagem do cometa.


Trabalho a minha passagem mesma,
o Dia promete-se à-luz-azul,
de Noite o manto do mágico crivado de estrelas,
o Ranho ao Nariz de perpétuo comovido


ante a desarmante, amante e amada Beleza
da Vida, relicário de lamparinas,
chispas nos olhos dos velhos
iguais às dos olhos das meninas.


Reescrevo cada dia o Pão dele, do Dia,
sabes, por vezes custa viver ao mesmo tempo
que o Corpo, rapariga de vestido sem mangas
ondulando como revoada de trigo as ancas,


tomadora de chá de tília, utente de fino
longo cigarro branco, empregadita do comércio,
TV Guia & Maria, coitada, tão bonita e tão
mal-empregada. Cada dia o Pão etc.


– e os Rostos.

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Canzoada Assaltante