Instruções para ser infeliz
Definitivamente, a primeira instrução para uma boa infelicidade é ser português com livros. Ser-se luso com Mann, Levi, Calvino, Moravia, Céline, Mishima, Yourcenar, Rodoreda, Quiñones, Osório, Belo, Sabino e Martim Codax – não pode ajudar ninguém a ser feliz, mormente num tempeco de chicos zés viegas e zés luíses peixotos e possidónios cachapas e mias coutos que tais mais.
A segunda é ser português com olhos. Ver é uma coisa que prejudica o simples e animal olhar. Quem olha, vive. Quem vê, sobrevive – mas mal. Como em 1984 deixou escrito um poeta doente de Coimbra, “Quem tem um olho, é rei. Quem tem os dois, é abatido.”
A terceira instrução para uma infelicidade diplomada e certificada é ser português agora e já – derredor, as ourivesarias, as mercearias, as alfaiatarias e as demais quinquilharias primam todas por instalações-vídeo que filmam os roubos mas os não punem. Do Código Penal ao Ministério da Educação, aliás, a distância é nula.
A quarta instrução, por aparente paradoxo, remete para a felicidade pura e dura – essa estranha euforia tecnológica que transforma sobreiros em submarinos, partidas em contrapartidas, faxes em licenciaturas e cronistas tristes em parvos alegres.
O resto é o Mundial da África do Sul, José Mourinho, amantes correiodamanhãzáveis do Cristiano em solteiro e viúvos do futuro mais socrático e mais instrutivo.
Nisto tudo, a mãe do D. Afonso Henriques é que tinha razão, pena o gajo ser parvo e de Guimarães.
E feliz, se calhar.
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