como a um pássaro. Deixo a mão
nela – para que lhe faça festas
e a acalme quando for preciso.
O coração é um músculo.
Faço muita musculação.
Osculo na recordação
o teor minúsculo
da acalmação.
Era o mar, antigamente.
Hoje é só sexta-feira.
Tiro o ombro de baixo da cabeça,
deixo-a cair ao chão,
fico com um ombro na mão.
Tiro o sexo da minha vida.
Não vou forçar nomenclaturas,
mas ele já m’houve certas alturas
de entrega a mais perdida.
Contra Pai e Mãe se não copule,
digo eu – que o cinza-céu, quando é azul,
chove e não chove, faz frio ou não
– deixemo-lo cair ao chão.
Revoam folhas outonais pelo chão
dos tiradores de cabeças.
É uma tarefa, estar claro e atento
nas variações de cinz’azul.
Riscos de gelo tiram cópias de ADN,
gerados os frios de antigamente:
eu queimo azeites de querosene
e não me sinto diferente.
Sou-vos igual porque tiro a cabeça
e a mão deixo. Talvez um verso
faça a diferença: entre vida e morte,
nunca entre vida e vida.
Mais crianças me apoucaram
o solitário fermento eterno:
num gesto branco que traçaram,
acabaram, súbito, o inverno.
O que d’inverno trago comigo
não é de pouca monta:
apenas algo que aponta
ao leitor o que é consigo.
Tiro o ombro, à cabeça o ponho.
Desmantelo o puzzle, quando sonho.
Tiro a cabeça, ponho a cabeça.
Tiro a mão, deixo, só, o coração.
Caramulo, entardenoitecer de 23 de Novembro de 2007
Sem comentários:
Enviar um comentário