Cheia de medida
lhe parecia a presença nocturna das coisas,
e como um espaço triste ele se expandia por sobre elas.
R.M. Rilke,
Descida de Cristo aos Infernos
(Paris, Abril de 1913).
Tradução de Paulo Quintela
Está Frio Lá Fora Como às Vezes
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Está frio lá fora como às vezes acontece cá dentro.
Ouve-se um raspar de mãos de cão sobre pedra.
As casas fecham a cara aos rostos da rua, aliás nenhuns a esta hora.
Uma lua vigora como soro azedo.
Longe, tanto pode ser a voz do mar como a dos carros.
O mundo preside a todas as ausências, todas as faltas, todas as perdas.
É assim que tem de ser.
Podemos espectrar pelas áleas minerais da hora.
Está frio na água que se torna pedra com filhos dentro nadando.
Veios de sal são bocas aqui pousadas outrora.
O vento arrasta a cauda alta pelas alturas vitrificadas.
Respirar é um trabalho duro e mal pago.
Restos de papel de sol ficaram agarrados aos muros.
A noite acontece toda cá dentro. E tudo é fora, ao frio.
Um cheiro são de lenha em lar acesa vem pela rua.
Arde aromático o fogo humano.
Pedra e ar, casa e fraga, cão e pessoa:
inumeráveis algarismos às estrelas sem conto.
Entre árvores, estendem ramos de sombra as estátuas,
olhadas pelas árvores petrificadas, figurantes.
Inflamadas senhoras, e fátuas, umas e outras.
Devemos derivar no mundo.
Facto ou linguagem, o mundo tem de ser.
Atira-nos o frio para a vida e os cães.
Não é a voz do mar, longe. É a dos carros.
Exercício da atenção ao cabo de anos seguros pelo rabo.
Espinhas de peixe, pombas catando pão pelas lajes.
Aproveitar na noite um papel de sol, escrever nele.
Ouve-se um raspar de mãos de cão sobre pedra.
As casas fecham a cara aos rostos da rua, aliás nenhuns a esta hora.
Uma lua vigora como soro azedo.
Longe, tanto pode ser a voz do mar como a dos carros.
O mundo preside a todas as ausências, todas as faltas, todas as perdas.
É assim que tem de ser.
Podemos espectrar pelas áleas minerais da hora.
Está frio na água que se torna pedra com filhos dentro nadando.
Veios de sal são bocas aqui pousadas outrora.
O vento arrasta a cauda alta pelas alturas vitrificadas.
Respirar é um trabalho duro e mal pago.
Restos de papel de sol ficaram agarrados aos muros.
A noite acontece toda cá dentro. E tudo é fora, ao frio.
Um cheiro são de lenha em lar acesa vem pela rua.
Arde aromático o fogo humano.
Pedra e ar, casa e fraga, cão e pessoa:
inumeráveis algarismos às estrelas sem conto.
Entre árvores, estendem ramos de sombra as estátuas,
olhadas pelas árvores petrificadas, figurantes.
Inflamadas senhoras, e fátuas, umas e outras.
Devemos derivar no mundo.
Facto ou linguagem, o mundo tem de ser.
Atira-nos o frio para a vida e os cães.
Não é a voz do mar, longe. É a dos carros.
Exercício da atenção ao cabo de anos seguros pelo rabo.
Espinhas de peixe, pombas catando pão pelas lajes.
Aproveitar na noite um papel de sol, escrever nele.
Texto:
Caramulo, noites de 17 e 18, manhã e tarde de 19 de Dezembro de 2007
Foto: Caramulo, tarde de 5 de Dezembro de 2007
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