vindo voando chegam sem cessar.
Poisam em tudo, manchas de tinta de prata.
Significo eu ainda? As mãos nas minhas,
diz-me. Olha, isto é uma lareira: acendi-a
de dia
para ti, só, mais que ninguém.
Este é agora o nosso quintal, império
breve, como todos.
Tens medo da morte e não da vida:
és tão engraçada.
Eu vejo peixes voadores, tu felizmente
não.
Que diferentes as pessoas
são.
Constituímos corpos. Em torno deles,
giracirandam facturas, bicicletas,
manequinas feminins as mais obsoletas,
recados eléctricos, de viagens prospectos
e cinecartazes os mais obsoletos.
É a vida.
Às vezes, dormes. Outras, morro eu.
O que disto não é ainda verdade,
sê-lo-á.
Adormece, pois, por enquanto.
No nosso quintal chove o alado pescado,
frios oblongos pássaros tentando respirar
pela barriga
como mulheres grávidas,
como cães espancados,
como os velhos do lar.
Iço por vezes a cabeça
acima do coração.
Quand'isso acontece,
vejo a vida como se de helicóptero.
Torna-se agradável.
Eu agora não ambulo tanto pelas vendas
de bifanas, foi-se-me o tempo de
ganhar muito dinheiro, fazer
v'cincos dabris por um verso
sem papel.
Não, eu agora já não.
E, já agora, não.
Vejo peixes, é o mais que posso
dizer-te.
A gente bebe café juntos como
velhos conhecidos.
Bebemos reconhecidamente
café.
Tu vês-me na manhã rápida.
Eu procuro conchas, obtidos
os peixes. Tenho corrido a lápis
o mapa da Noruega,
Ja Vi Elsker etc..
No meu entender, um homem pode.
Um homem feito de cancerígena vianda,
assim como de prospectivas recordações;
e um cão amarelo.
Há quantos anos parti
para a Noruega e não
voltei?
Há quantos anos parti
a loiça toda?
A gente é um homem,
a gente é uma mulher.
Diferentes óleos ungem nossas
peles. Pele com pele, as crianças serôdias
raspam côdeas, farinha e leite,
pastelaria-fina-fabrico-próprio.
Só a absoluta pertença de um
a si mesmo
justifica a propriedade privada.
Como um quintal de peixes
voados, caudais caídos anjos
de fria prata.
Passeando tão pouco, como tanto
viajamos?
Que o não pareça ainda,
e embora,
esta é uma conversa coroada
de serenidade.
A lareira parece um coração exposto,
repara.
O duro inverno campeia já, ínclito.
Egrégia se algodoa a névoa
em torno da casa exterior.
Vale que não despovoa o mar,
o inverno,
de peixes.
Salomónicos, partilharemos um pouco mais
do sal que chega do ar,
tocando de prata o quintal pobre,
a pobre vida
feliz.
Caramulo, anoitecer (ao tom dela...) de 23 de Agosto de 2006
3 comentários:
Ufa... e vou ter de reler.
Abraço.
Deslumbrante.
Belíssimo! Vou ter que reler, como o Paulo.
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