18/08/2023

H. EM BUSCA DELFIM - 132 (22 estrofes mais e ainda) - Sábado, 16 de Julho de 2022

© DA.





O crime do incendiário é-me pessoalmente repugnante.
O da pedomania, repugnantíssimo, intolerável.
Mesmo que não-amada, deve a pessoa ser amável.
Isso a torna pessoa, cívica, humana & boa-gente.

Padeço, há coisa de quinze anos, de crises ácido-úricas.
Debilitam-me elas a extremos de invalidez.
Fideputas tais purinas da mais anti-renal acidez!
Combato-as a Colchicine & a demais coisas barbitúricas.

Fui: organista de igreja aos dezasset’anos (por namorar ’ma catequista);
pintor-de-paredes em anos de intestina dissensão;
recepcionista de hotel; vigilante de asilo; anacoreta-baptista
& vendedor do mais fresco & impoluto requeijão.

Vivo para escrever, não vivo de escrever.
O esquecimento me perdoará tal desperdício.
Escrever é porém meu solo-vero ofício.
O resto é esgadanhar em prol do pão para comer.

Tenho é lido coisas (alheias, claro) maravilhosas.
Quatro Amigos hei fazendo o mesmo, sim.
Há livros que me dão cabo das coisas.
Dar cabo das coisas é o meu fim.

Amadurece já a manhã (são as 9h56m).
Há que viver delicado, mesmo entre brutos.
Há que ser dedicado, mesmo entre astutos.
A morte soma todos os anos; a vida?, minutos.

“Já estás co’ ela?”
Quando tal me perguntam, sei não referirem-se a eventual 
alguma mulher.
“Já estás co’ ela” é a bebedeira com que então estiver.
(E no entanto já tive alguma vera ela, invariavelmente bela.)

Em alheias dimensões, mistérios benignos.
Em remo(r)tas aldeias, índices & signos.
De cada vez que revisito meu Zé-Irmão,
regresso combalido de sua/minha condição.

Ó Germano das Águas do nosso Município!
Ó Freixo dos Verdes, prof. de Matemática!
Ó Gramática regente do Passado-Particípio!
Ó Infelicidade-a-Mais-Espermática!

Resgatar-me-ei eu ’inda desta perene transitoriedade?
Optarei eu pela utopia criogénica pró-ressuscitação?
Lázaro serei de um Cristo em Boa-Vontade?
Há deveras mais filosofia em o garrafão?

Em Portugal, as Urgências-de-Obstetrícia
volveram-se quási todas casos-de-polícia.
As parturientes, regidas p’la Natureza,
não sabem onde parir, não há base de certeza.

Frautas-avenas bucolizam prados de pastorícia.
(Mas reitero o que disse daquilo da obstetrícia.)
Rugas pergaminham, daquel’além senhora,
o rosto que foi já de fêmea sedutora.

O Sol amadurece a estiolada aridez.
Bate forte na cabeça, desequilibra.
De estiolar-se, é que ninguém se livra.
Há no viver uma espécie de avidez.

Primícias, ’inda as guardo incorruptas.
Excelsa criação tive de os Pais.
Escuso é d'andar p’r’aí aos ais.
De cerrados olhos é que bem escutas.

Como verticais ourivesarias, as laranjeiras.
Pepitas d’ouro-verde, os limoeiros.
Maravilhas simples, as árvores-fruteiras.
Cada uma vale universos inteiros.

(De-cabo-a-rabo, trabalho.
Quem mo contrarie, vá co’ caralho.
A função-poética? Meu rumo.
Meu rumo com atavio & aprumo.)

Sempre haverá quem mais mal do que nós esteja.
Vale mais acordar cedo, laborar, tomar cerveja.
Camilo Castelo Branco, casado aos 17 anos em Ribeira de Pena.
Eça (cônsul) documentando o moço Nobre: que insigne esquecida cena!

António Fragoso. Amadeo. Cristovam. Mário Botas.
Sebastião da Gama. Dom Sebastião. A morte-moça por quotas.
Obras que se obstinam em vão anti-esquecimento.
Memória-da-História, aprendizagem-nenhuma, é verdade, lamento.

E se de repente me deixasse de tabagismos & copofonias?
Que saúde intolerável presidiria a meus dias?
E se? E que? E por que? E pois então?
Recuperaria eu a meu Amarelo Canino-Cão? Não.

Rebrilha já o folhedo das altas tílias.
À delas sombra, pequen’-almoçam famílias.
E eu sinto, co’ aliás a mor acuidade,
repentes de solidão, literariamente soledade.

Vou a páginas 109 deste mesmo manuscrito.
Tocando vou gado, povo-de-meus-sonhos-vãos.
A Serra da Estrela atira em pedra grito.
E eu também não, sou bem mais de nãos.

Íñigo, meu novel Amigo, venham dias melhores.
Catar comida em lixo tem de ser já pretérito.
Eu vira um rapaz na merda, chamado Adérito.
Mas o preto-e-branco também é a cores.








1 comentário:

Daniel Abrunheiro disse...

https://www.youtube.com/watch?v=FmkC_leNM7M&t=25s

Canzoada Assaltante