© DA.
133
Delfim, Amigo:
Trabalhei
as primeiras oito horas do dia. Minutos depois das oito, na rua já,
escancara-se-me à luz este deserto chamado Domingo.
Ligeira
fadiga não me impede de teimar novas linhas. Sem esperança, todavia, de topar
(qualquer) sentido para isto. Digo: tudo isto.
Perscrutei a noite afinal fresca, toda ela. Não telefonei nem fui telefonado. Não li. Não escrevi. Trabalhei. Ganhei de noite o dia, por assim dizer.
Cristiano
Guante Pertunha Filtro, viúvo de Ontília Cerume Patasco Cantaleão, vem ao
Danúbio tomar seu verdume, depois vai daqui ao pão.
Demasiada
gente contristurada suportando mal a permanente contrariedade da vida. Ou: da
vidinha. Eu decerto tal qual tal gente.
Tó-Mané
Vianeira Peldorada, taxista exausto, demasiados anos nas corridas – ainda se fosse, de alvará, patrão… Mas não.
Diz-se
muita coisa, ladra-se muito – mas pouco se aduz à luz do geral entendimento.
Ora, isto causa-se ressentimento.
Casco
Quenodal Ptistério Verndengo, taxidermista, maior bebedor de vinho do que cão
em pé ao muito que chove. Anos? 59.
Panóplio
Engaço Gasque Rendilha, com saudades da filha, tenta em vão que ela lhe devolva
a chamada. Mas não, nada.
Maio
de 1984. Jardim Botânico. Ali me eis com Ela. Adorada, cheirosa rosa muito
branca, de olhos amáveis – e amados, perdida ora em canhenhos impublicáveis.
Vimente
Pré Botante Deyroteo, armazenista de bacalhau, rico como um vespeiro ao sol, ou
como um girassol desdenhoso, quer o filho doutor-médico.
Teodora
Roriz Galveias Narciso, viúva de Gaudêncio Camarga Martizo Homício, também mora
na Rua da Figueira da Foz, sim, como H.
Celana
Geremin Murta Arrobas é tia do meu querido Amigo (& professor-primário)
Barlindo Isidoro Vitalino Quaresma, ela mesma.
Musa
Carminda Getúlio Paçô, namorei-a quatro meses, estivemos perto de nos
cometermos matrimónio, outro galo hoje cantaria.
Nau
Ceres Frágio Sepúlveda, infeliz pai-de-família, vesgos investimentos na Bolsa o
caducaram – sem provisões ora, sem mulher, sem filharada.
Petúnia
Salitre Riodar Galo, da Serra da Estrela, viveu noventa & dois anos em
Coimbra. Veio para cá aos dois anos de idade. Nunca viu neve.
(Meia manhã é já volvida, desconheço naturalmente que tarde segregará ela de seu ventre, talvez muito cedo seja demasiado tarde.)
Sem comentários:
Enviar um comentário