Andamento do resultado
(sem tempo para descontos)
Foi
há quarenta anos. Era partida de futebol a contar para a Zona Centro da Segunda
Divisão Nacional. No entretanto demolido estádio municipal cá do sítio, União
de Coimbra 0 – União de Santarém 0. Resultado justo para o que se passou em
campo. Estive na bancada. Começava eu então a deixar de ser menino. Foram
noventa minutos contemporâneos do princípio do (meu) mundo – pois que ninguém
grave me havia então morrido.
Dezoito
anos volvidos sobre esse manso empate, fui eu a deslocar-me à capital do
Ribatejo. Movia-me lá o propósito de uma entrevista com determinado familiar
directo do maravilhoso doutor António Martinho do Rosário, vulgo Bernardo
Santareno. Obtive a entrevista, que depois radiodifundi para memória, que eu
saiba, de ninguém. Santarém 1 – Coimbra 1.
Bem.
Passados que foram oito anos mais, e algures nas imediações da tão
mal-aproveitada Scalabis, jantei com
& a convite de duas jovens senhoras muito bem-postas: Santarém 3 – Coimbra
2. Nesse mesmo anuário, comemorei livrescamente o 30.º aniversário do 25 de
Abril no jardim-feito-Casa do doutor Pedro Canavarro (cujo recente livro ainda
não tenho mas hei-de ter). Tal foi lá em cima, onde o Sol abre de si as Portas
– Santarém 4 – Coimbra 3.
Do
tudo disto, (re)tiro & (res)guardo o pequeno-nada de ser verdade tudo. Não
me acrescento nem me subtraio: são coisas que, minhas, a outros pertencem
também. O ponto está em esta crónica me devir rectilineamente da edição passada
(31-5-18) dO RIBATEJO. A manchete desse
fértil & festivo número foi: “A Feira
está mais ribatejana”. Bom. Ainda bem. Entretanto, e na página 14 da mesma
publicação, o meu amigo Arnaldo Vasques cronicava, a benigno preceito como
sempre, sob este título: “A nossa Feira”.
Como na comum & global vida, presente & pretérito mesclaram-se. Ninguém
conhece o porvir – mas o presente é iluminável sem dor mercê de lâmpadas
passadas, cuja luz é incapaz de fazer mal a quem não ande aqui só para usar na
moleirinha um daqueles chapéus-há-muitos-ó-palerma!
Eis pois que, portanto, Santarém 5 – Coimbra 4.
A
presente & corrente crónica poderia, já & por aqui, dobrar a finados de
si mesma – mas não dobra, que eu não deixo. Tenho mais dela, e por ela, a
dizer. Digo: não fui este ano à Feira do Ribatejo. Não pôde ser. Outro ano
será, espero. Perda minha: Santarém 6 – Coimbra 4. O facto é eu viver, hoje em
dia, outras feiras. Mormente, a feira-do-quotidiano. Hoje mesmo, ao
rés-vés (e ao revés) do primeiro autocarro da manhã, uma rapariga branca como
um lírio & grávida como um pote deixado à chuva, desmaiou na paragem dos
autocarros. Socorremo-la todos, atrapalhando-nos de aflição uns aos outros. A
em-breve-mãe recuperou sangue, tensão & consciência, agradecendo-nos a todos
o susto & o préstimo. Santarém 6 – Coimbra 6 (o feto também conta).
Termino
sem cansativo prolongamento. Assim: pela mesma edição passada deste V.º Jornal,
fiquei a saber, a páginas 41, que a União Desportiva de Santarém (UDS) “segue em frente rumo à subida”. Muito
bom. Muito bem. Já o recorrente, atento & atencioso leitor Rudi B.
comentava, a propósito, que “vamos lá a
ver se será desta que a UDS ganha asas para pousar nos campeonatos nacionais”.
Oxalá. Nota daqui: o meu emblema local foi rebaptizado Clube União 1919. Tem a ver com a bancarrota a que alguém (ou alguéns) levou o mui formoso & mui
operário Clube de Futebol União de Coimbra. Ainda não temos equipa sénior, só
camadas jovens – mas lá iremos. Cá estarei, nos entretantos, para novo
vitorioso empate entre a Santarém que é minha & a Coimbra que faço Vossa.
Parafraseando: cidades que, minhas, vos a Vós pertencem também, ainda, desde
& para sempre. Ninguém perde. Ganhamos todos.
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