22 Dezembros na
melhor companhia
Mantenho
desde 1995 um registo minucioso de leitura(s). A esse acervo vou de quando em
volta acender lume na obscuridade do tempo que passa. Acontece-me muito, aliás,
proceder a re-leituras por causa disso: como lerei nesta idade o que em outra
mais moça li? Desta vez, porém, revisito o caderno para dar cabedal
retrospectivo à presente crónica. Catarei apenas alguns títulos – e apenas dos
22 Dezembros entretanto acontecidos.
A
15 de Dezembro de 1995, concluí a frequência de Seis Propostas para o Próximo Milénio, do brilhantíssimo Italo
Calvino – cá está uma releitura a fazer em breve.
A
12/XII/96, cheguei ao cume da Montanha
Mágica, de Thomas Mann. É obra monumental, que relerei também – e sem
qualquer receio de me parecer, duas épocas volvidas, menos montanhosa.
Dezembro
de 1997 foi mês-Cortázar: leituras de El
Examen (a 17) e de Octaedro (30),
além da já então re-leitura de Blow Up e
Outras Histórias (também a 17). Tal como Calvino & Mann, o grande
Argentino é santo cativo do meu bibliómano altar pagão.
Dezembro/98
começou da melhor maneira: a 8, Peregrino
e Estrangeiro, da maravilhosa Marguerite Yourcenar.
Na
madrugada de 28/XII/1999, concluí a primeira volta integral ao magnífico Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança, do
nosso boníssimo Manuel António Pina.
O
derradeiro mês do ano 2000 foi ocasião propícia para o usufruto de uma
obra-prima: a 23, Conversa na Catedral,
do peruano Mario Vargas Llosa. Livro profundíssimo, de fortíssima construção.
Na
última madrugada de 2001, tive a companhia de uma Senhora. Esclareço: companhia
por correspondência – Engano Astucioso, da ladina Ruth
Rendell.
Em
Dezembro de 2002, li muito Maigret /Simenon.
Um
ano depois, aprendi muitíssimo com um brasileiro que é para aí umas cem (ou
mil) vezes melhor cronista do que eu: Luiz Fernando Veríssimo – a 4, Comédias da Vida Privada (101 Crónicas
Escolhidas); a 29, Novas Comédias da
Vida Privada; nos entrementes veríssimos,
papei, a 21, do também brasileiro Fernando Sabino, o excelentíssimo romance O Encontro Marcado.
Acelerando
ora o passo antes que o espaço se me acabe:
de
Dezembro de 2004, destaco O Ente Querido,
de Evelyn Waugh (a 6) e La Symphonie
Pastorale (a 21), de André Gide;
XII/2005:
teatro do insigne Harold Pinter – O
Quarto (a 21); Feliz Aniversário
(a 27); O Serviço, a 29;
XII/2006:
dentre o mais, a biografia Joan Manuel
Serrat, belo cantor catalão (d)escrito pelo gigante, e catalão também,
Manuel Vásquez Montalbán (a 26);
XII/2007:
andei mormente pelas anglografias – o fantástico (na dupla acepção do termo)
E.A. Poe, mais H. Walpole, S. Warren, Prosper Mérimée, E.P. Oppenheim, A.
Berkeley, juntando-se a estes insignes senhores o casal Cole (George Douglas
Howard & Margaret);
na
tarde de 8/XII/2008, li Sobre Não Estares,
do nosso Joaquim Jorge Carvalho;
na
noite de 28/XII/2009, foi a vez de O
Livro da Confiança, de um senhor padre chamado Thomas de Saint Laurent;
o
último livro consumido em Dezembro/2010 foi, na noite de 16, de uma estrela
literária alemã, Peter Handke de sua graça: Uma
Breve Carta para um Longo Adeus;
em
2011, excelentíssimo início do mês terminal: Crónicas de Fernão Lopes (escolhidas e anotadas pela sábia senhora
D.ª Maria Ema Tarracha Ferreira).
[Calma,
que estamos quase a chegar ao presente.]
2012,
dias 4, 10, 13 & 27/XII – viajei pelo Portugal
Século XX - Crónica em Imagens, com direcção de Joaquim Vieira para o
Círculo de Leitores: é obra monumental que (nos) abarca como Povo de 1900 a
2000, à razão de um volume por década – finíssima síntese documental;
Dezembro
de 2013 foi de altíssimo quilate – frequentei com grande proveito, se
aproveitamento não, Guy de Maupassant, Brecht, D.H. Lawrence amaila densíssima senhora que houve por
nome Virginia Woolf: respectivamente, Bel-Ami
(a 6), Histórias de Almanaque (a 12),
O Raposo (a 14) & Um Quarto que Seja Seu (a 30);
dos
demais de Dezembro/2014, sublinho, do magnífico historiador francês Georges
Duby (grande escritor!), As Damas do
Século XII (a 12), e a Correspondência
1905-1922 do nosso Fernando Pessoa, a 17.
Já
em Dezembro do ano passado, calhou a vez a um bom achado d’alfarrábio que
entretanto fizera numa banca de rua (por um eurito): La Crise de la Démocratie Contemporaine, obra ominosamente saída em
1931, ou seja, no imediato pré-hitletarianismo, da autoria de um tal Joseph-Barthélemy.
No
corrente mês do ano que, areia entre os dedos, se nos acaba, li finalmente de
ponta a ponta Os Simples, do nosso
poeta Guerra Junqueiro, lírica precedida de um precioso ensaio de Moniz Barreto
intitulado A Literatura Portuguesa no
Século XIX.
Hoje,
quinta-feira, 15 de Dezembro de 2016, estou a ler o noss’ O Ribatejo. E tu também.
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