Edward Steichen
Woods Interior
1898
Woods Interior
1898
© Estate of Edward Steichen
Coisas que me dão
n’alembradura tipo aforismos ou pior
Vou
pelo lema estóico tão do agrado do polígrafo (mas Poeta sobre tudo o mais, acho
eu) Manuel António Pina e de outros plumitivos de alta e cavalar nomeada tais como
Walt Whitman (que Álvaro Fernando de Campos Pessoa leu) e Ezra Pound (que
valorizou a tempo e horas um tal James Joyce): Nec spe nec metu – Nem
esperança nem medo.
Em
relação a tudo – ou a quase tudo.
Em
relação a todos – ou a quase todos.
Até
porque, antigamente, a Ignorância se envergonhava de si mesma. Hoje, forma
(des)Governo.
Seria
preferível morrer ignorado a viver na ignorância, se viver não fosse, como de
facto e deveras é, preferível a morrer.
A
18 de Agosto de 2007, andava eu, não sei já por ou para quê, pela Figueira da
Foz. Num repente (mal tive tempo de tomar nota), ocorreu-me esta evidência:
“Um dia, a minha
vida será uma sombra numa frase alheia.” Estranhamente talvez, essa certeza
serenou-me. Lá estava aquilo do nem-esperança-nem-medo: é que, depois,
nem sombra nem sobra.
Já
muito antes (por volta de 1994, talvez, teria meses apenas a minha Leonor), me
ocorrera algo deste tipo:
“A minha morte já
começou, lá nos sítios onde estive e a que não voltarei.”
E
é que já.
Outra
do género (mas de que não recordo com precisão a data):
“Só a ubiquidade
me/nos volveria eternos/s.”
Pois
é: só estando em todo o lado ao mesmo tempo nos tornaria indeléveis, quando
deléveis é o que somos – basta que morra o último que se lembre de nos botar o
nome numa frase para que de todo nos apaguemos. O grande António Osório já,
claro e claramente, o sabia, quando se referiu, algures, à “eternidade sem luz do esquecimento.”
Finalmente,
pelos estertores da primeira década dos correntes século e milénio, estremunhei
certa madrugada com isto já escrito (ou já inscrito,
que não é bem a mesma coisa) na mente:
“O amor é cego.
A memória é o cão
do cego.”
Memória.
Esquecimento. Esperança. Medo.
“Words, words,
words”,
enfim – o velho Lelo Shakespeare sempre
faz e dá sempre jeito.
Por
instantes, revivo a tarde de 12 de Setembro de 2007. Dessa vez, a carcaça
andava-me pelo Caramulo. Palavreado na cabeça às voltas.
A
palavra ente.
A
palavra utente.
Para
a primeira, isto:
“Nada disto tem a
ver com a vida.
Uma coisa é um gajo
estar vivo.
Outra coisa é um
gajo sê-lo.”
Para
a segunda, isto:
“Nada disto usa a
vida.
Uma coisa é um gajo
estar vivo.
Outra coisa é um
gajo usá-la.”
Tudo
coisas que me dão n’alembradura tipo aforismos. Ou pior. Poderia dar-me para
andar no gamanço ou na droga. Não ando. Ando nisto. (Des)governo-me com estas,
e afins destas, verbosas inutilidades. Mas para andar a sério (mesmo a sério e
à séria) no gamanço, formaria eu (des)Governo.
Não
formo. Não formarei. Falta-me ignorância para isso.
E
medo. Falta-me medo para isso.
E
esperança (essa usança da espera), coisa de que não sou ente nem utente. Falta-me
esperança para isso.
Vou
sendo o cão do cego, mas com a devida
pulga atrás da atenta orelha.
Pronto.
Já está. Crónica feita. Para o ano que vem, outra vez Feira do Ribatejo, vulgo
Nacional da Agricultura – mas não há-de ser (iupi!) o Cavaco a inaugurá-la.
Sempre
há qualquer coisita de que ter, afinal e sem medo, esperança.
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