06/08/2014

da série Leite dos Santos - entrada 54 do caderno 16 - BAILE SOZINHO ou O INVERNO DE QUELUZ

54

Leiria, manhã de 12 de Maio de 2013, sábado


Sei de uma mulher e de sua filha, o homem da casa
fugira delas para a venezuela-do-costume,
acabaram as duas, uma sem saber da outra,
por se relacionar com um rapaz de maneiras
& unhas polidas, quando finalmente se descobriram
ambas utentes do abraço dele, chamaram-no a casa

e esquartejaram-no o mais civilizadamente,
ele ocupou o estúdio das águas-furtadas,
deixaram-lhe o domingo de folga,
segundas-quartas-sextas para a mãe,
terças-quintas-sábados para a filha,
ele engordou um pouco, tornou-se algo paxá,

mas no geral a vida ia e corria bem, entretanto
o contrato dele nos Correios acabou,
de modo que elas ficaram felizes até,
tinham e mantinham uma loja de sementes,
despediram a empregada de quase toda a vida
e meteram-no lá a ele a ensacar amostras de girassol

para as feiras e para as entregas ao domicilio,
o problema foi numa destas ele se ter deparado
com Clotilde, uma viúva larga como a vida
de algumas pessoas como ela, ela-Clotilde chamou-o
à pedra da razão, pôs-lhe casa na mansarda do prédio
que todo lhe pertencia a ela, como ele passou a pertencer.

2 comentários:

Maria Eu disse...

E aí, a liberdade veio me forma de mulher! Abastada, ainda por cima! Sortudo!

Beijinhos Marianos, Daniel! :))

Daniel Abrunheiro disse...

:)
Outros tantos, Maria.

Canzoada Assaltante