DIVERTIMENTO (1)
Leiria, 13 de Setembro de 2013, sexta-feira
Como
altos frutos de seiva alta crescem
e
passam pela galeria as mulheres alheias.
Todas,
sem excepção quase, me merecem
as
felicitações mais altaneiras.
Olhai-me
esta morena: parece um lírio bronzeado.
É
desconfiadita: mamalhuda, olha de lado
o
poeta inocentíssimo que a soletra, o vil.
Em
cada pernaça rija tem quilómetros mais de mil.
Fincai-me
esta loura à força como é de moda:
já
aquele coirão (perdão!) mereceu muita foda,
que
no derramar do leite está o choro ganho.
Fica-lhe
bem a popelina fresca na pele saída do banho.
Estas
duas, siamesas, amorangam framboesas.
As
bocas são de uma carnação acerejada
que
apetece lamber com chantilly – ou então com nada.
Que
passinhos voadores! Que sandalinhas princesas!
Passa
por fim a feia forte não desprovida de encanto.
Farfalhuda
de barrigola, é de marido que gosta de bola.
Mas
um não-sei-quê se evola dela,
uma
trepidação que conspira sob a blusa amarela.
Já
quase arrumo o caderno, já vou quase em casa.
Portei-me
hoje bem, não ensaquei o grão-na-asa.
E
quando a minha me perguntar pelo dia,
minto-lhe,
feito cegueta, que só a ela vi quando escrevia.
DIVERTIMENTO (2)
Leiria, 15 de Setembro de 2013, domingo
Esvurmo,
mui voraz, à palitada
de
dente cavernoso uma bocada
de
carne que ali me apodrecia.
Sarro
e catarro arranco a puxões,
que
escarro depois sobre um relvado.
Que
feio e ruidoso, puxar o escarro
e
deixar o verde pano ov’estrelado!
A
minha santa Mãe, se isto me via,
ralhava,
pomba furiosa, pois não podia
que
o Menino fosse qual vil carroceiro,
p’ra
mais com universidade e do nome Abrunheiro.
Mas
nem sempre se é mota. Às, vezes só se é lambreta.
Sou
feliz assim, porcalhão, descuidoso.
Chego
a cuspinhar pelo mero gozo
de
imitar a fonte, a carranca, a sarjeta!
Ora
pois qu’inda bem. Hoje, não lavei ’inda os dentes.
E
pois então? Cariados, rachados, são sorridentes
à
mesma, quando disso é ocasião.
Esta,
uma dessas. Mas pelo que te escrevo não meças
(ou,
muito menos, me peças)
que
mude agora de condição.
Algumas
lostras chegam a ser formosas,
com
seu quê de ostras, de ovo, de rosas.
Daí
o parecer-me algo pacóvia
a
repugnância indistinta ante toda a escarróbia.
As
que prefiro são as de recheio como as empadas
–
folhosas, cristaladiças, suculentas e folhadas.
E
não direi muito pelo errar, não,
que,
afinal, todo o cuspir-pró-ar
acaba
caindo no chão
como
é da mais humana condição.
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