Queres tu, leitor,
ser Maia, o Cartoonista?
Esta semana, sonhei que tinha saído o euromilhões ao Maia,
O António Maia, O nosso ínclito, egrégio e pátrio cartoonista. Pois foi. Sonhei.
Fiquei duas coisas com tal sonho: feliz (por ele) e à rasca (por mim). Feliz,
porque sim: um artista de verdade com dinheiro a sério não é todos os dias nem
todas as vidas. À rasca, porque o sonho tinha continuação & próximos
cartoons, perdão – & capítulos.
Indiferente, ele, à por assim dizer abstrusa e bermuda
triangulação de cama (porque afinal, sonhado embora, o bom Maia partilhava
comigo & esposa minha o esponsal tálamo), vem-me ele no sonho muito
mesmerizante-hipnótico-espiralar assim para mim: porque o sonho tinha
continuação & próximos cartoons, perdão – “Daniel, ó pá, porreiro, saiu-me a batelada toda, modos que me vou
pirar daqui p’ra fora tipo prà Noruega ou pr’Argentina e de vez, vês, ‘tás-a-ver,
só que não quero deixar mal o jornal e muito menos ainda os ainda leitores,
modos que fazíamos mas era assim, eu deixo-te umas vinhetas já tudo
lápis-coloridas, assim tipo uns cegos a pedir e a dar cavaco, um coelho não
porque isso é vulgar mas um gaspar e uma merkel e aquele careca-e-azevedo que
fugiu p’r’Inglaterra e o carlos-lopes e a rosa-mota, mais bónus assim a modos que
coiso alvarito-da-inconomia, tás-a-ver, tu ficavas com os desenhos e depois só
tinhas de fazer, já que não fazes nada, as legendas para os balões das falas assim
e tipo e a modos q’o Vasco Santana, olh’ó balão, que era balão e falava ao
mesmo tempo, ficava-t’eu muito agradecido, a pontos de que quando cá viesse, se
cá viesse ou fosse doido pa’ isso, assim de Buenos Aires ou Oslo, ’inda te
pagava umas enguias avieiras e um sável palustre amailuns tintos do Cartaxo e
umas talhadas daquele melão espanhol que em Almeirim sabe a independência da
Catalunha, qu’é que me dizes?
Disse-l’e que sim. Que remédio. Desde infante que sofro
cagufa de meter medo a contrariar sonhos. Daí que escreva. (Até poesia,
valha-me o Santíssimo. E boa, valha-me Deus.)
Modos que fiquei com o menino nos braços de legendar o
boneco. Por assim dizer. Vamos a isso.
CARTOON N.º 1 – DOIS
PEDINTES CEGOS, A e B. Diz o A: “A Merkel e o Vale e Azevedo vieram no mesmo avião.”
Remata o B: “Pois é, um mal nunca vem só.”
CARTOON N.º2 – OS
MESMOS DOIS CEGOS-DE-PEDIR. Diz o A: o subsídio de Natal do trabalhador é como
o Sporting no campeonato. Diz o B (muito compadre):
Então porquê? Ri-se o A: A gente sabe que ele devia ali estar, mas não está.
CARTOON N.º3 – OS
MESMOS CEGOS PEDINTES MAS COM BATA, GORRO E MÁSCARA ORAL (percebe-se que são
eles pelos óculos fumados). Diz o B: Ainda bem que o Gaspar não é obstetra como
nós. O A (é a vez dele de ser “compère”): Então porquê? E o B: Porque os bebés
já nasciam só com uma orelhinha e menos um terço do cordão umbilical.
CARTOON N.º4 – Carlos Lopes e Rosa Mota.
Pergunta ele: Sabias que o Marques Mendes quis praticar atletismo para imitar o
Cavaco? E ela: Ai foi? Não fazia ideia. E ele: Foi, mas teve de desistir dos
110 metros/barreiras porque se aleijava muito na testa.
CARTOON N.º5 – (e
penúltimo, chiça). Voltam os pedintes cegos. Ao fundo, uma cruz de santuário e
uma trupe de manequins fato-gravata de montra sem cabeça. O A: Ocorre-me que o
milagre de sair da crise só levando os ministros a Fátima. O B: Achas que
resultava? A: Tentar não dói. Vinha a noite, metíamos os gajos na procissão e lá
iam eles. De vela.
Nisto, a minha
senhora acordou. Felizmente, o nosso cartoonista já tinha zarpado. Segue-se o
diálogo então desenhado:
CARTOON N.º6 – A
minha senhora: Tiveste um pesadelo? E eu: Tive. Ela: Deixa, que já passou. E
eu: Passou, o tanas. Não sei que raio hei-de fazer ao alvarito-da-inconomia.
Nem vocês.